São dias tumultuosos para o jornalismo. Nem sei se adianta dizer que, esperamos errar mais que os bombeiros. Ontem à noite, peguei na máquina fotográfica e caminhei a pé durante cerca de 1Km, na estrada que atravessa as Cortes de Alvares, em Góis. Fui intercetado por um guarda da GNR que não me proibindo de ir me aconselhou a não fazê-lo. Pedi-lhe que me enviasse flores se eu não voltasse. Sorriu e deu-me algumas dicas. Cruzei-me com dois colegas da RTP, que não voltei a encontrar.
Vi o trabalho dos bombeiros, bem de perto, sozinho, como gosto. Vivi tudo numa noite: a ordem, a desordem e o caos. Ouvi rádios pelo canto do ouvido, ouvi gritos de “água”, ouvi bombeiros quase calados pelo cansaço. Quando se vê, ouve e sente, tudo ao mesmo tempo numa sinestesia sem tréguas, é fácil errar. O mais certo é errar.
Querem que vos conte um segredo? Ninguém que aqui está sabe nada nestes palcos que nunca abrem a cortina toda à plateia, que ainda assim, aplaude em gáudio ou vaia em revolta, conforme se apercebe dos erros; sejam jornalísticos, de informação, dos bombeiros ou dos governantes. Todos erramos e talvez tenhamos esse direito, porque apesar da redundância, acredito que, "só lá estando, se pode lá estar".
Desse para o público ver todo o palco, como ele é e até espreitar os bastidores, onde o calor encolhe a pele, e os aplausos seriam mais contidos, as críticas amainadas e a realidade prevaleceria como ela é, dura e crua.
Nunca as notícias estiveram tão fracas emocionalmente porque há muito que as notícias passaram de factos, a factos com emoções; o público gosta, mas exige sensibilidade e bom senso aos repórteres. O público espera que estes tenham emoções parecidas com as suas. Esta mistura entre o que se diz e o que se espera ouvir, é quase sempre imperfeita, porque as pessoas são imperfeitas. Não se está jornalista, é-se jornalista; cada vez tenho mais esta certeza, ao ler relatos de colegas de profissão que nunca tinham estado em catástrofes como esta que assola o país. São relatos emocionados, por isso, emocionantes; porque viver um incêndio para poder contar, é obrigarmo-nos a falar de sentimentos, muito mais do que só de factos e quando falamos de sentimentos, somos perfeitamente errantes.