Violência doméstica

Violência doméstica: “Há preconceitos muito grandes de género que vão toldar as decisões judiciais”

O Conselho da Europa alertou para as “sanções brandas” nos crimes de violência doméstica em Portugal. À SIC Notícias, a advogada da UMAR, Ana Marciano, fala num problema de base da sociedade, que ainda tem uma “mentalidade patriarcal”.

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Um grupo de peritos do Conselho da Europa pediu a Portugal que imponha formação obrigatória aos juízes para combater "as sanções brandas" aplicadas nos crimes de violência doméstica e sexual.

No ano passado, a APAV recebeu, em média, mais de 1.600 pedidos de ajuda por mês, feitos sobretudo via telefone e e-mail. É uma subida em relação ao ano anterior.

No total do ano, a associação ajudou cerca de 12.700 mulheres e 3.700 homens.

Quando olhamos para a idade das vítimas, informações disponibilizadas no relatório anual, vemos que a maioria tem entre 25 e 54 anos. Há ainda uma percentagem expressiva de menores vítimas de violência doméstica em Portugal: são mais de 20%.

“Parte-se do princípio que há um comportamento da mulher que não é adequado”

Em entrevista à SIC Notícias, a advogada Ana Marciano, da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, afirma que os dados são preocupantes e defende que existe um “problema de base da sociedade”, que ainda tem uma “mentalidade patriarcal”.

“Há preconceitos muito grandes de género, que vão toldar a forma como as decisões judiciais são emanadas. Parte-se do princípio que há um comportamento da mulher que não é adequado e é tido como legitimador para a prática do crime.”

A jurista sublinha ainda a necessidade de todos os profissionais que interagem com as vítimas terem formação especializada, desde magistrados, advogados, entidades policiais e até psicólogos.