No regresso a Moçambique, Venâncio Mondlane denunciou um “genocídio silencioso”, discurso que "continua a ser altamente altamente inflamado", pelo que o líder da oposição “dificilmente vai ser um fator de estabilização para Moçambique", diz Ricardo Alexandre.
O regresso de Venâncio Mondlane a Maputo "revela coragem política" e uma posição clara enquanto líder da oposição.
“Revela um distanciamento, apesar dele dizer que não, em relação ao partido que o apoiou na corrida presidencial, o Podemos”, mas pelo tom inflamado, Mondlane “dificilmente vai ser um fator de estabilização para Moçambique”.
Mondlane referiu-se a um “genocídio silencioso”, mas Ricardo Alexandre adverte que expressões deste tipo exigem ponderação.
“É inquestionável que tenha havido violações de direitos humanos e excesso policial nos últimos meses, na forma como os protestos foram contidos, reprimidos pela polícia”, mas usar termos como genocídio "deve ser feito com muita ponderação".
O resultado das eleições: há razões para para questionar a legitimidade?
Apesar de irregularidades apontadas por observadores internacionais, Ricardo Alexandre afirma que “não tinham dimensão para colocar em questão o resultado eleitoral”.
“A vitória da Frelimo foi clara, com quase dois terços dos votos e domínio em todas as províncias”.
Nos centros urbanos, no entanto, o Podemos de Mondlane alcançou resultados significativos, mostrando a sua força enquanto nova oposição, enquanto a Renamo perdeu mais de metade da sua representação parlamentar.
Mondlane tem potencial para liderar a oposição
Para Ricardo Alexandre, Venâncio Mondlane tem potencial para liderar a oposição, mas isso dependerá de como se posiciona politicamente.
“É interessante que ele venha dizer que não vai aceitar nenhum cargo executivo, abrindo a porta para que pessoas do seu grupo possam integrar um eventual governo de unidade nacional”
Ainda assim, acredita que a Frelimo, com a maioria obtida, poderá optar por formar um governo exclusivamente “dos seus”.
O papel de Portugal e da comunidade internacional
Nas ruas, os protestos continuam, com violência. Há rumores de que houve pedidos de proteção para Mondlane por figuras da sociedade portuguesa, como Ana Gomes e Fernando Nobre. No entanto, Ricardo Alexandre lembra que Moçambique é um Estado soberano.
“Portugal pode apelar à estabilidade e ao respeito pelos direitos humanos, mas não pode fazer muito mais”.