Vodafone Paredes de Coura

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Lágrimas, beijos e um livro de poemas: sentir "à flor da pele" o Tim Bernardes em Coura

Mal se ouviu a voz de Tim Bernardes em Paredes de Coura, levantou-se um frenesim de festivaleiros à procura de um lugar no relvado. Sentavam-se, compenetrados no ambiente intimista do cantautor brasileiro. Alguns abraçavam-se, outros beijavam-se e houve também quem tivesse chorado. Tim levou de Coura a “vulnerabilidade” e um livro de bolso.

Concerto de Tim Bernardes, no segundo dia do festival Vodafone Paredes de Coura
Concerto de Tim Bernardes, no segundo dia do festival Vodafone Paredes de Coura
Pedro Rebelo Pereira

Sentadas e de olhos postos no palco principal, milhares de pessoas aguardavam ansiosamente a entrada de Tim Bernardes no palco principal do Vodafone Paredes de Coura. Era o arranque do segundo dia no palco Vodafone, e Tim preparava-se para arrastar uma multidão de pessoas para a abertura do palco principal. No primeiro dia, os Dry Cleaning, que abriram o palco Vodafone, não tiveram nem metade da capacidade de mobilização.

Ainda tocava a portuguesa “A Garota Não” no palco Yorn quando a voz e a viola do brasileiro começaram a ecoar no recinto. De repente, centenas de pessoas começaram a correr para ouvir Tim. Sozinho em palco, com um fundo verde - um ambiente a remeter para o seu último álbum “Mil Coisas invisíveis”, editado em 2022 - Tim Bernardes fez uso de uma viola, de um piano e da voz para impressionar milhares de pessoas.

Mas, horas antes de o brasileiro subir ao palco, já havia no relvado quem guardasse um lugar na primeira fila o para ver. Foi o caso de João Moreira, que veio de Lisboa de propósito para ver o Tim Bernardes.

“Ver o Tim Bernardes aqui [em Paredes e Coura] é uma coisa completamente imperdível. (…) Este é o palco para ver o Tim Bernardes", começou por dizer.

João já veio a mais de seis edições do Vodafone Paredes de Coura. Conheceu Tim Bernardes através dos portugueses Capitão Fausto que gravaram uma versão da canção “Recomeçar” com o brasileiro.

Trazia consigo a esperança de poder falar com Tim Bernardes e de lhe poder entregar um presente. E, logo após do ‘sound check’, conseguiu vê-lo, acenar-lhe com um pequeno livro e entregar-lhe em mãos a poesia da sua tia.

“Eu acenei-lhe com o livro e ele veio logo perguntar se era para ele. Eu dei-lhe esse livro de poesia da minha tia. Espero que faça bom uso dele”, contou.

João ofereceu-lhe um livro de poesia de bolso da escritora e professora Yvette K. Centeno. Será que Tim leu o livro?

João Moreira, de Lisboa, no Vodafone Paredes de Coura
Pedro Rebelo Pereira

Entretanto, às 18:40 horas em ponto, Tim Bernardes subiu ao palco. Passados dez minutos do início do concerto, ainda havia quem corresse e tentasse encontrar um lugar no relvado.

Em entrevista à SIC Notícias, o músico brasileiro contou que, apesar de ter trazido uma ‘set list’ preparada para o Paredes de Coura, conseguiu acolher alguns pedidos do público.

“Eu tenho sempre uma set list preparada, mas eu não preciso de a respeitar, porque não toco com mais ninguém. Então, em algum momento, eu pergunto ao público o que eles querem”, afirmou.

Da multidão vinham vários pedidos que o artista foi atendendo à medida que conseguia. Lá tocou um trecho de “Bielzinho”, música da sua banda “O Terno”, e ainda invocou a sua “ídola” Gal Costa, com “Realmente Lindo”.

“Eu vejo que as pessoas conhecem [Gal Costa], tanto os brasileiros quanto os portugueses. Eu, de alguma forma , sinto-me parte dessa música que foi feita no Brasil nos ano 60/70, esse tipo de canção. Então cantar essas músicas é natural porque é o que eu cresci ouvindo”, disse à SIC Notícias.

Tim Bernardes em entrevista à SIC Notícias, no festival Vodafone Paredes de Coura
Pedro Rebelo Pereira

Tim sentia-se em Woodstock, como chegou a dizer logo no início do concerto. Até então, em Portugal, tinha apostado nos concertos em salas fechadas que davam destaque ao seu estilo intimista. Trazer essas canções a Paredes de Coura podia ser um risco, mas os festivaleiros ajudaram a criar o ambiente certo.

“Fiquei surpreso porque, às vezes, o festival é um ambiente um pouco mais barulhento para canções assim mais íntimas. E aqui deu para sentir que era um público que queria ouvir a música e parecia que eu estava num teatro mesmo”, referiu.

Nos ecrãs laterais do palco e distribuídos pelo recinto, iam aparecendo casais que selavam o momento com um beijo e muitos festivaleiros em lágrimas. Já no fim do concerto, falámos com três jovens fãs do cantor que disseram que o ambiente intimista de Tim Bernardes abria espaço à “vulnerabilidade”.

Para o cantautor, esse é o objetivo da arte: o sentir à flor da pele, sem ter de “envelopar” as emoções, e sentir a vida, tal e qual como ela é.

Tim Bernardes em entrevista à SIC Notícias no festival Vodafone Paredes de Coura
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Puxámos agora a fita atrás. João entregou o livro de poemas a Tim com a esperança de que o músico o lesse. Quisemos saber o que fez o brasileiro com a oferta que lhe chegou às mãos.

Entre os testes de som e o espetáculo, Tim Bernardes leu o livro escrito pela tia de João, Yvette K. Centeno.

“[O livro] é muito bonito. Acho que é uma poetisa dos anos 80, não é?”, disse.

E continuou:

“Eu ganho uns presentes e tenho muito tempo livre no camarim. Eu olho e leio tudo”, contou.

A língua portuguesa foi destaque no arranque do festival esta quinta-feira. A Garota Não e Tim Bernardes trouxeram milhares de pessoas ao Vodafone Paredes de Coura.