Familiarmente

A doença mental mata

No Dia Internacional da Saúde Mental, o debate “Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal” - em que o Expresso é media partner da Johnson & Johnson Innovative Medicine - reuniu especialistas que falaram sobre as soluções disponíveis para o doente, a dificuldade no acesso a medicação inovadora, o combate ao estigma e a necessidade da prevenção do suicídio
Debate “Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal” teve lugar esta quinta-feira, dia em que se assinala o Dia Internacional da Saúde Mental
Debate “Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal” teve lugar esta quinta-feira, dia em que se assinala o Dia Internacional da Saúde Mental
Matilde Fieschi
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A reforma que está em curso no campo da saúde mental em Portugal está a avançar, mas ainda com passos tímidos sobretudo no campo do investimento que é ainda insuficiente para suprir o atraso de 20 anos do país relativamente aos demais países desenvolvidos da Europa. A fatia do Plano de Recuperação e Resiliência por atribuir é ainda desconhecida, mas os especialistas esperam que seja superior aos cerca de 5% do Orçamento de Estado que se verificou nos últimos anos.

Mais prevalente que, por exemplo, a doença de Alzheimer, a doença mental ainda não é encarada nem abordada como outra doença qualquer. É preciso aumentar a literacia da população neste campo, mas também desbloquear o acesso de medicamentos inovadores que, embora aprovados, não chegam ao mercado, apontaram aos responsáveis empresariais presentes no debate “Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal”, em que o Expresso é media partner da Johnson & Johnson Innovative Medicine

A conferência foi moderada pela jornalista da SIC Paula Castanho e contou com a presença de Francisco Pedro Balsemão, CEO Grupo Impresa; Filipa Mota e Costa, da Johnson & Johnson Innovative Medicine; João Bessa, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental; Joaquina Castelão, presidente da Familiarmente – Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental; Ana Matos Pires, membro da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde e Sofia Tavares, professora da Universidade de Évora

Conheça as principais conclusões.

Combater o estigma

  • Há um tabu em relação à saúde mental que inibe a sociedade de pedir ajuda. 
  • É preciso aumentar a literacia e falar mais sobre o tema para que mais pessoas saibam a quem e onde recorrer.
  • Há uma tendência para a psiquiatrização da vivência quotidiana. A depressão tem características distintas da tristeza “que todos devemos e podemos passar ao longo da nossa vida”, explica João Bessa.
  • Em casos mais graves, o estigma relativamente à doença mental “vem muitas vezes até dos próprios serviços de saúde”, revela Joaquina Castelão.

O que é preciso fazer

  • A doença mental deve ser diagnosticada o mais rapidamente possível e ter “tratamento adequado às necessidades da pessoa e da própria família, tal como em doenças como uma insuficiência renal ou doença cardíaca”, alerta Joaquina Castelão.
  • Relativamente a patologias mentais graves como a esquizofrenia, é preciso ter uma posição “mais positiva”. “Hoje em dia a esquizofrenia pode ter uma recuperação muito positiva e uma reintegração social e familiar significativa”, diz João Bessa.
  • São necessários vários tipos de tratamento e a evidência cientifica comprova que a intervenção psicológica “é eficaz mesmo do ponto de vista do custo e efetividade tem um papel importante. Liberta uma carga importante dos cuidados primários”, diz Sofia Tavares.
  • Até agora, nenhuma das 500 residências previstas para doentes de saúde mental foi construída. Mas já foram encerrados hospitais psiquiátricos. “Antes de encerrar completamente os hospitais é preciso criar estruturas e condições para a transição dessas pessoas e, por outro lado, acolher os que não estão nos hospitais, que estão na sociedade. Muitos são sem porque deixaram de ter suporte familiar, mas são pessoas como nós”, diz Joaquina Castelão.

Investimento e prevenção

  • Os cuidados primários estão treinados para diagnosticar e encaminhar doentes de saúde mental, mas os recursos “são escassos”, admite Ana Matos Pires. Os especialistas alertam para a necessidade do investimento em recursos humanos especializados.
  • Os cuidados de proximidade são essenciais para que as pessoas não tenham de ir todas aos serviços centrais. “Devem ser criadas equipas comunitárias de acordo com as necessidades de cada região, que permitam também os processos de reabilitação e reintegração do doente, muitas vezes complementar ao tratamento”, diz Joaquina Castelão.
  • Prevenir o sofrimento no suicídio, porque “as pessoas que se suicidam não querem terminar com a vida mas com a experiência de sofrimento que naquele momento vivenciam. É preciso não ter receio de falar e abordar o tema”, diz Sofia Tavares.

Os números

  • Uma em cada cinco pessoas sofre de problemas de saúde mental em Portugal.
  • Dois milhões de pessoas precisam de ajuda para lidar com a patologia.
  • As perturbações da saúde mental são responsáveis pela perda de um terço dos anos de vida saudável.
  • Portugal é o país com a mais elevada taxa de prevalência de doença de saúde mental na Europa e ocupa a quinta posição entre os países com mais casos.
  • Em mil suicídios registados, mais de 50% resultaram de depressão, patologia que aumenta 20 vezes este risco. 
  • 8% dos portugueses estão diagnosticados com depressão.
  • 48 mil portugueses sofrem de esquizofrenia, 16% dos quais não tem acompanhamento médico.
  • “Não se chegou a investir 5% do valor do Orçamento do Estado nos últimos anos. Aprovam-se políticas, mas o investimento ficou aquém do que esperámos. Aguardamos que o próximo orçamento seja mais generoso”, afirma Joaquina Castelão.

A SIC Notícias – com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e em colaboração com a associação Familiarmente – lança um projeto para falar sobre saúde mental. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.