Contactado pela Lusa, António Bento Bembe, ministro sem pasta do Governo angolano e presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo, não quis confirmar "rumores" e prefere aguardar por informação oficial.
A detenção, tal como as de Belchior Lanço Tati, professor universitário, e Pedro Benjamim Fuca, ex-agente da polícia, surge depois do ataque reivindicado pela Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) à selecção do Togo, a 8 de Janeiro.
A equipa de futebol do Togo foi alvo, dia 08, de um ataque a tiro reivindicado por duas facções das forças separatistas de Cabinda quando entrava no enclave pela fronteira com o Congo para participar na Taça das Nações Africanas 2010 (CAN2010), que se realiza em Angola.
No ataque, morreram o treinador-adjunto e o adido de imprensa da equipa e ainda o condutor angolano do autocarro.
O advogado Martinho Nambo admitiu à Lusa que estas detenções estão relacionadas com as investigações em curso sobre o ataque da guerrilha que atingiu o autocarro da comitiva togolesa que seguia desde o Congo-Brazzaville para Cabinda, na zona de Massabi, mas alega que se trata "apenas de um pretexto".
O causídico alerta ainda para a "situação muito preocupante" que a questão de Cabinda está a assumir, informando que em conversa recente com Raul Tati, este terá mantido uma conversa com elementos da segurança de Estado que fizeram referência a uma lista de cinco pessoas de Cabinda que seriam detidas em breve por "apoio à guerrilha".
O próprio Martinho Nambo estará nesta alegada lista, bem como os nomes de Raul Tati, hoje detido, e do Padre Jorge Casimiro Congo.
"Eu posso ser preso a qualquer momento, provavelmente esta é a última vez que estou a falar consigo antes da minha detenção", avisou Martinho Nambo na conversa que manteve hoje via telefone com a Lusa a partir de Luanda.
O Padre Raul Tati tinha sido afastado das "obrigações sacerdotais" no passado dia 5 de Janeiro pela hierarquia católica da província de Cabinda, tendo, na altura afirmado à Lusa que apesar de afstado será "sacerdote ate à morte".
Raul Tati, padre há 19 anos em cabinda, é uma das figuras da Igreja Católica do enclave que, em 2005, contestaram a nomeação de D. Filomeno Vieira Dias para bispo de Cabinda, facto que esteve na génese da sua suspensão nesse mesmo ano.
Pouco antes das eleições legislativas de Setembro de 2008, Raul Tati defendeu que a situação política da província, onde a FLEC reivindica a independência do enclave, não permitia ao povo exprimir-se livremente através do voto nem a realização de eleições em condições normais, alegando existir repressão à liberdade de expressão.
Tati foi um sete sacerdotes que contestou em 2005 o actual Bispo de Cabinda.