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Comunidade portuguesa sente-se insegura no Rio de Janeiro

Portugueses a viver no Rio de Janeiro afirmaram à Lusa que sentem medo e que as casas das comunidades portuguesas estão cada vez mais vazias pelo temor da violência.

"Quando vim para o Rio já estava informada, não vim de olhos fechados, vim minimamente preparada" , afirmou à Lusa a jovem estudante portuguesa do Porto, de 19 anos, Sara Ruela Ramos.



Sara Ruela Ramos dos Santos, que está a viver na cidade há quase 10 meses, diz que tem evitado circular por bairros mais perigosos, como no centro da cidade, na Zona Norte e Oeste onde têm ocorrido os arrastões e ações de repressão da polícia.



"Em Portugal, eu sinto-me muito mais segura" , admite Sara ao sublinhar que "não há país perfeito e a cidade do Rio tem qualidades muito boas" , argumenta.



"Mas tem esse grande problema que é o tráfico. Tenho que encarar essa situação como qualquer brasileiro e passar por cima. Não estou tão segura com o clima de tensão e de instabilidade nas ruas" , afirma.



Sara vive numa casa de estudantes em Copacabana e garante nunca tinha passado por uma "onda de assaltos tão grande e intensa" . Mesmo assim, afirma que quando terminar os estudos pretende continuar a viver e a trabalhar no Rio.



Hélder Fonseca Miranda, de 23 anos, que estuda na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também há menos de um ano a viver ali, disse que sempre ouviu dizer sobre a violência na cidade.



"Sempre ouvi dizer da violência e que há épocas tensas aqui. Pelo que eu vejo na televisão dá medo, mas por enquanto, não fui atingido diretamente pelas ações violentas" , realçou à Lusa o português de Póvoa do Varzim que, apesar do clima de insegurança, ressalta que era o seu sonho ir para o Rio de Janeiro.



"Os meus amigos na faculdade falaram-me para eu ter cuidado, desde domingo não saio à noite" , admitiu.



Já a vice-presidente da Casa das Beiras, no bairro da Tijuca, Eliane Mariath diz não se lembrar de uma situação tão tensa como desta vez.



"Os portugueses estão com medo, as casas das comunidades estão a esvaziar-se" , disse à Lusa Mariath.



"Estamos bem no meio da confusão" , afirmou.



Mariath vive na rua Santa Amélia e a Casa das Beiras também é ali próximo. Desde domingo, um autocarro e outros dois veículos foram incendiados naquela localidade.



"Nós tornamo-nos prisioneiros dentro da nossa própria casa. Não saímos às ruas, não temos segurança. Em frente ao meu edifício tem uma cabine da Polícia Militar, eles próprios estão assustados porque as cabines estão a ser metralhadas" , confessa.



A vice-presidente da Casa das Beiras reside no 10 andar e o helicóptero da polícia passa muito próximo da sua janela, de onde é possível "ver as armas em punho da polícia, é horrível" .



Mesmo assim, "a vida continua, temos que trabalhar com receio" , destaca Mariath. "Eu digo sempre: para morrer basta estar vivo. É preciso manter a calma" .



Segundo ela, a Casa das Beiras continua a funcionar, fica aberta durante a semana até às 18h, mas muitos portugueses não comparecem aos eventos à noite.



"As pessoas têm mudado a sua rotina. A ideia agora é fazer os eventos de dia e não mais à noite" .



Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Lusa