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Berlim critica atuação de Londres no caso de espionagem dos Estados Unidos

Berlim considera que Londres ultrapassou a "linha vermelha" ao obrigar o diário The Guardian a destruir os discos rígidos com informação sobre o escândalo de espionagem dos EUA e ao deter o companheiro do jornalista que divulgou o caso.

© Suzanne Plunkett / Reuters

O comissário do Governo alemão para os Direitos Humanos, Markus Lning,  criticou abertamente, numa entrevista difundida hoje pelo diário Berliner  Zeitung, o comportamento do Reino Unido e classificou-o de "inaceitável".

Na sua opinião, "a linha vermelha foi ultrapassada" no caso The Guardian,  depois de o editor do jornal, Alan Rusbridge, ter assegurado, na terça-feira,  que as autoridades de Londres o obrigaram há um mês a destruir as cópias  do material entregue por Edward Snowden, o antigo analista da Agência Nacional  de Segurança (NSA, na sigla em inglês) que difundiu o programa massivo de  espionagem dos Estados Unidos à escala mundial. 

Na opinião de Rusbridge, o que aconteceu demonstra que "a ameaça contra  o jornalismo é real e está a crescer", tal como já tinha manifestado o jornalista  Gleen Greenwald, que divulgou o caso e prometeu continuar a publicar os  documentos de Snowden. 

Lning mostra-se "preocupado" com a situação da liberdade de imprensa  e de expressão no Reino Unido, em consequência destes acontecimentos. 

Os jornais The Independent e Daily Mail revelam hoje que o chefe do  Governo britânico, David Cameron, pediu a um funcionário que advertisse  o The Guardian sobre as consequências de continuar a publicar documentos  fornecidos por Edward Snowden. 

Segundo fontes governamentais contactadas pelo The Independent, o próprio  David Cameron deu instruções ao ministro do Gabinete Jeremy Heywood para  que este contactasse o jornal The Guardian e transmitisse as implicações  de revelar mais dados secretos das operações de espionagem realizadas pelos  Estados Unidos e Reino Unido. 

O comissário do Governo alemão para os Direitos Humanos considerou igualmente  "inaceitável" a detenção temporária de David Miranda, companheiro de Greenwald,  no aeroporto londrino de Heathrow.  

Durante a detenção, a polícia britânica confiscou o computador portátil,  o telemóvel, a câmara fotográfica e os dispositivos eletrónicos de David  Miranda. 

O brasileiro esteve retido durante nove horas em Heathrow, o aeroporto  mais movimentado da Europa, quando fazia a escala de um voo de ligação entre  Berlim e o Brasil, onde vive com o jornalista Glen Greenwald, que entrevistou  o ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos  Edward Snowden em Hong Kong além de ter publicado várias notícias sobre  o programa de vigilância PRISM. 

A detenção de David Miranda provocou um incidente diplomático com o  Brasil, críticas de associações de jornalistas, organizações civis e a petição  do Partido Laborista para a revisão da lei antiterrorismo. 

A Scotland Yard defendeu a aplicação da lei, que permite deter e interrogar  pessoas em aeroportos, portos e zonas de fronteira, e a ministra do Interior,  Theresa May, admitiu que sabia que iam deter David Miranda num aeroporto  de Londres, mas indicou que não participou na decisão policial. 

O Ministério do Interior do Reino Unido recusou na terça-feira condenar  a detenção de Miranda assinalando que "o Governo e a polícia têm o deve  de proteger as pessoas e a segurança nacional". 

Edward Snowden, ex-analista da NSA revelou em junho através de notícias  publicadas nos jornais 'The Guardian' (onde trabalha Greenwald) e 'Washington  Post' a existência de um programa de vigilância de grande escala, que opera  em todo o mundo com capacidade para vigiar e armazenar comunicações eletrónicas  e ligações telefónicas e que conta com a colaboração dos serviços secretos  britânicos.