Mundo

Espanha deve clarificar desaparecimentos do franquismo, considera ONU 

Um grupo de trabalho da ONU defendeu que Espanha  deveria esclarecer os mais de 114.000 desaparecimentos durante a guerra  civil e a ditadura franquista, considerado "lamentável" que esses delitos  continuem impunes.

1974 - A Guiné-Bissau faz o pedido formal de adesão às Nações Unidas. A independência do país, fora reconhecida em 1973 no âmbito da Organização.

A opinião foi expressa num comunicado do Grupo de Trabalho das Nações  Unidas sobre os Desaparecimentos Forçados ou Involuntários (GTDFI), que  conclui hoje uma visita de uma semana a Espanha. 

Responsáveis da equipa divulgaram hoje as conclusões preliminares com  um conjunto de recomendações ao Governo, do qual diz esperar por uma reação  antes da publicação do relatório definitivo em 2014. 

Em conferência de imprensa, os membros da equipa Jasminka Dzumhur e  Ariel Dulitzky elogiaram a cooperação e ajuda das autoridades espanholas,  bem como as das regiões de Catalunha, Andaluzia e País Basco, onde contactaram  também com centenas de familiares de desaparecidos. 

Nos contactos, as autoridades indicaram que se trabalha na elaboração  de um "plano nacional de direitos humanos", no qual os especialistas da  ONU esperam que se incorporem os casos de desaparecimentos forçados. 

"O Estado deve assumir um papel de liderança e comprometer-se de maneira  mais ativa para responder à vontade de milhares de familiares que procuram  conhecer a sorte ou o paradeiro dos seus seres queridos desaparecidos durante  a guerra civil e a ditadura", afirmaram. 

Desde o regresso da democracia a Espanha, consideram, "deram-se passos  tímidos para assegurar a verdade, a justiça, a reparação e a memória face  aos desaparecimentos forçados cometidos durante a guerra civil e a ditadura".

No entanto isto ocorreu "graças a iniciativas que em muitos casos têm  sido impulsionadas exclusivamente por familiares das vítimas ou pela sociedade  civil". 

O grupo de trabalho da ONU lamentou que não haja "nenhuma investigação  judicial efetiva em curso nem nenhuma pessoa condenada", o que atribuem  a "uma combinação de diversos fatores", entre os que Dulitzky destacou a  "interpretação" da Lei de Amnistia de 1977. 

O desaparecimento forçado de uma pessoa é um "delito continuado" até  que o caso seja esclarecido, afirmou o especialista argentino, que sublinhou  que a Lei de Amnistia "não pode servir de barreira para a investigação de  graves violações de direitos humanos". 

Não se trata de derrogar a Lei de Amnistia mas de garantir os seus efeitos  jurídicos, frisou Dulitzky. 

Os especialistas denunciam ainda que, em muitos casos de exumações de  valas comuns, o juiz não esteja presente, pelo que o ato carece de reconhecimento  judicial. 

O grupo da ONU considera também de fundamental importância que Espanha  ratifique a Convenção sobre a não-prescrição dos crimes de guerra e dos  crimes de lesa humanidade, apelando ao sistema judicial para "realizar um  uso consistente" dos instrumentos internacionais existentes. 

Esta foi a primeira vez que o grupo de trabalho da ONU visitou Espanha.

       

Lusa