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Portugal votou, no mesmo dia, a favor e contra resoluções que pediam libertação de Mandela

O Governo de Cavaco Silva votou, em 1987, contra  e a favor de resoluções diferentes das Nações Unidas que pediam a libertação  de Nelson Mandela, tendo justificado o voto contrário a uma delas por legitimar  o recurso à violência. 

© Rafael Marchante / Reuters

A 20 de novembro de 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas analisou  oito resoluções relacionadas com as políticas de 'apartheid' do Governo  da África do Sul. 

Duas delas exigiam, entre outros pontos, a libertação de Nelson Mandela,  então detido há 25 anos, tendo Portugal votado a favor de uma e contra outra.

PCP e BE criticaram hoje no parlamento que Portugal tenha votado contra  em 1987 - quando era primeiro-ministro o atual Presidente da República,  Cavaco Silva - uma resolução das Nações Unidas para a libertação de Nelson  Mandela. 

Contactada pela Lusa, fonte da Presidência da República remeteu para  os textos das resoluções e para a declaração de voto feita na altura.  

Portugal votou contra, juntamente com os Estados Unidos e o Reino Unido,  a resolução "Solidariedade Internacional com a Luta pela Libertação na África  do Sul", cujo ponto 4 "exige novamente que o regime racista termine com  a repressão contra o povo oprimido da África do Sul, levante o estado de  emergência; liberte incondicionalmente Nelson Mandela" e outros presos políticos.

Na mesma resolução, o ponto 2 reafirma a legitimidade do povo da África  do Sul e o seu "direito a escolher os meios necessários, incluindo a resistência  armada, para atingir a erradicação do 'apartheid'". 

Esta posição das Nações Unidas foi aprovada por 129 países, rejeitada  por 3 e teve 22 abstenções. 

Por outro lado, no mesmo dia, Portugal votou a favor de uma outra resolução  intitulada "Ação internacional concertada pela eliminação do 'apartheid'",  que, no seu ponto 4, pede às autoridades sul-africanas a "libertação imediata  e incondicional de Nelson Mandela e de todos os outros presos políticos".

Esta resolução teve 149 votos favoráveis, 2 contra (Estados Unidos e  Reino Unido) e 4 abstenções. 

Na declaração de voto, que não se refere à questão específica de Nelson  Mandela, Portugal justificou não ter apoiado todas as resoluções relacionadas  com a África do Sul por "não concordar que as resoluções da Assembleia Geral  apoiem violência, sob qualquer forma, como a única forma de resolver situações  de injustiça". 

"A delegação de Portugal não pode apoiar a violência verbal e certas  referências discriminatórias nas resoluções que acabámos de adotar, porque  elas não contribuem para a formação de um consenso que poderia ser a base  para uma pressão internacional eficaz para devolver à maioria da população  sul-africana os seus direitos legítimos", refere a declaração do então representante  diplomático português junto das Nações Unidas Ramalho Ortigão. 

O representante português sublinha ainda "a firme condenação do sistema  do 'apartheid'" e a "forte objeção e oposição a esta sociedade aberrante  baseada no racismo institucionalizado e na desigualdade racial". 

As restantes resoluções a propósito da África do Sul analisadas nesse  dia nas Nações Unidas dizem respeito a questões como sanções e outras medidas  contra o país ou o embargo de petróleo, mas nenhuma outra se refere à libertação  de Nelson Mandela. 

Lusa