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Autoridades de saúde atentas à chegada de mosquito tropical ao Mediterrâneo

As alterações climáticas e o aumento da temperatura média na bacia do mediterrâneo estão a trazer para esta região mosquitos tradicionalmente de zonas tropicais, alguns perigosos transmissores de doenças, como o "mosquito-tigre" (Aedes Albopictus), alertam as autoridades de saúde.

© Tobias Schwarz / Reuters

Um relatório publicado em novembro pelo Centro Europeu para a Prevenção  e o Controlo das Doenças traça um "mapa de risco" da transmissão de doenças  pelo Aedes Albopictus na Europa, lembrando que nos últimos anos foram confirmados  centenas de casos de chikungunya em Itália e de dengue na Croácia e em França.

Sendo um vetor (transmissor) de dengue menos efetivo que o Aedes Aegypti  (conhecido como mosquito da dengue), a sua chegada à Europa, devido à globalização  do comércio e das viagens, facilitada pelas alterações climáticas, está  a ser acompanhada de perto pelas autoridades de saúde. 

António Tavares, Delegado de Saúde Regional de Lisboa e Vale do Tejo,  disse à agência Lusa que, embora ainda não tenha sido detetado em Portugal,  há uma grande atenção a este vetor, uma vez que foi identificada a sua presença  na zona de Barcelona (Espanha). 

A Rede de Vigilância de Vetores (Revive) tem um papel fundamental na  prevenção destas doenças, disse, lembrando os alertas lançados sobre a possibilidade  de aparecimento de dengue na Madeira provocado pelo Aedes Aegypti, como  veio a acontecer. 

"Durante mais de cinco anos detetou-se o vetor, devido às ligações da  Madeira a África e à América do Sul. Basta um doente e torna-se uma cadeia  incontrolável", alertou, sublinhando que estas são doenças transmissíveis,  ao contrário do que acontece com outras como os enfartes. 

A gravidade das doenças transmitidas por vetores é tal que a Organização  Mundial da Saúde (OMS) decretou como tema para o Dia Mundial da Saúde 2014  (07 de abril) "Pequenas criaturas, grandes ameaças". 

"É um tema muito atual", disse António Tavares à Lusa, sublinhando que,  pela forma de transmissão, rapidamente a doença se transforma em pandemia.

"No século XX, a doença que mais matou foi a gripe e não a SIDA, designada  como doença do século. As pessoas não estão muito despertas para isto",  disse, lembrando que "em África morre uma criança em cada minuto de malária"  e que o dengue é a doença que mais tem crescido nos últimos anos (40 por  cento da população mundial está em risco). 

A Revive, criada em 2008, tem permitido melhorar o conhecimento das  espécies de vetores existentes em Portugal, esclarecer o seu papel como  agentes transmissores de doença e detetar a introdução de espécies invasoras.

Além da vigilância durante todo o ano em portos e aeroportos, as equipas  da rede fazem recolhas em vários pontos do país, entre maio e o final de  outubro, sobretudo em zonas húmidas e pantanosas, sabendo que a larva se  desenvolve em locais que contenham água (buracos, pedras, bambus, bromélias,  latas, pneus). 

As equipas que andam no terreno recolhem amostras (de mosquitos mas  também de carraças) que verificam depois se estão infetadas, permitindo  detetar atempadamente qualquer alteração na abundância, na diversidade e  papel de vetor, de modo a que sejam tomadas medidas.