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Europa precisa de milhares de milhões de abelhas, alerta estudo 

Muitos países na Europa estão a enfrentar uma  preocupante falta de abelhas para a polinização das culturas, um problema  causado principalmente por uma mudança de política da União Europeia favorável  aos biocombustíveis, alertaram cientistas em estudo hoje divulgado. 

(Reuters/Arquivo)
© David W Cerny / Reuters

"A Europa, enquanto tal, só tem dois terços das abelhas de que precisa,  com um défice superior a 13,4 milhões de colónias, o que corresponde a cerca  de 07 mil milhões de abelhas", quantificaram. 

Os cientistas, da Universidade de Reading, no sul do Reino Unido, compararam  o número de abelhas domésticas em 41 países europeus com a necessidade de  polinização entre 2005 e 2010. 

Apuraram que em 22 países, as abelhas foram incapazes de responder às  necessidades, o que forçou os agricultores a recorrerem a vespas e a outros  insetos selvagens. 

A situação era melhor na Turquia e na Grécia e nos Balcãs, onde há uma  forte tradição de apicultura e a oferta preencheu 90% da procura. 

Mas era pior nas antigas repúblicas da União Soviética e no Reino Unido,  com menos de 25, e na Alemanha e França, com uma satisfação da procura entre  25 e 50%. 

Em resultado, os agricultores dependem cada vez mais de polinizadores  selvagens, em vez das abelhas domesticadas, cujos serviços alugam durante  o tempo da polinização.  

Esta dependência crescente é preocupante, dadas as flutuações nas populações  de insetos selvagens e a sua vulnerabilidade à agricultura intensiva e caracterizada  pela monocultura, com menos plantas com floração para oferecer alimentação  ou proteção, alerta-se no estudo. 

"Enfrentamos uma catástrofe no futuro, a não ser que ajamos agora",  afirmou o investigador que liderou a equipa, Simon Potts. 

"Os polinizadores selvagens requerem uma grande proteção. Eles são os  heróis desconhecidos do campo, ao constituírem uma ligação crítica na cadeia  alimentar para os humanos e fazerem o trabalho de graça", acrescentou. 

Uma estimativa datada de 2009 estimou que o contributo da polinização  dos insetos para o valor global das colheitas é de 153 mil milhões de euros.

A nova investigação, publicada na revista científica norte-americana  PLOS ONE, associa o défice de abelhas ao aumento em 38% na área afetada  a plantações de oleaginosas, como soja, girassol ou colza. 

Este número compara com um aumento de 07% no stock de abelhas domésticas,  entre 2005 e 2010, de 22,5 milhões de colónias para 24,1 milhões. 

A expansão da área das oleaginosas resultou de uma diretiva da União  Europeia, de 2003, que determinou o aumento do consumo de biocombustíveis  na Europa para 5,75% dos combustíveis consumidos pelos transportes em 2010.

A União Europeia estabeleceu um objetivo de 10% para 2020, o que suscitou  um debate sobre a limitação da quota das colheitas alimentares para evitar  um efeito negativo nos mercados alimentares mundiais e regionais. 

O estudo nota ainda que as abelhas domésticas ocidentais (Apis mellifera),  usadas na Europa, têm sido vítimas nos últimos anos de pestes, bem como  da exposição a pesticidas. 

 

Lusa