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Coma de estudante após praxe em Liège lança debate na Bélgica

A Bélgica foi abalada, em setembro, por um caso de abuso nas praxes académicas que levou ao coma uma estudante francesa da Universidade de Liège, originou um processo criminal e lançou um debate sobre tradições universitárias.

(Reuters)
© Stephane Mahe / Reuters

No dia 22 de setembro, a jovem estudante de medicina veterinária Fanny  Magnin entrou em coma na sequência de um edema cerebral provocado pela absorção  de vários litros de água de seguida, tendo acordado dois dias depois. 

Fanny foi obrigada a beber litros de água depois de ter recusado a ingestão  de bebidas alcoólicas. 

Os estudantes responsáveis foram processados por "tratamento degradante  e desumano", a que acrescem ainda "golpes e ferimentos, intencionais ou  não" - estando o caso nas mãos do procurador-geral de Lige, Christian De  Valkeneer. 

"Nos batismos académicos, há uma linha vermelha que não pode ser atravessada",  preveniu, citado pela imprensa belga. 

O caso, por envolver uma estudante francesa, ganhou dimensão internacional,  tendo a ex-candidata à presidência francesa Ségolne Royal apelado publicamente  à proibição das praxes na Bélgica, o que lançou um debate que acabou por  envolver o primeiro-ministro belga, Elio Di Rupo. 

"O batismo de um estudante é uma escolha pessoal. Mas não se pode,  em caso algum, atentar contra a integridade física dos estudantes. Temos  leis que sancionam os abusos", respondeu Di Rupo às críticas de Ségolne.

Na Bélgica, há distinção entre duas realidades: o batismo (baptême),  ou rito de iniciação, dos estudantes - que é legal e regulamentado - e a  praxe abusiva (bizutage), que é proibida por lei. 

Também o reitor da Universidade de Lige, Bernard Rentier, sublinhou,  em comunicado esta distinção: "o conselho  1/8órgão da academia 3/8,a a melhor maneira de  tornar clandestina uma atividade que, normalmente, pode ser adequadamente  enquadrada". 

A opinião geral mantém-se no sentido da não proibição das praxes de  iniciação tradicionais - enquadradas por regulamentos que ligam os organizadores  às autoridades universitárias, nomeadamente as associações de estudantes  - e mão pesada nos casos de abuso, previstos na legislação. 

Refira-se que os estudantes de veterinária de Lige não integram a associação  geral da universidade (AGEL). 

Na página online da AGEL pode ler-se que a associação "agrupa as comissões  de batismo (à exceção dos veterinários ) e enquadra a sua atividade principal",  ou seja, a praxe. 

Esta é definida como "uma cerimónia iniciática que permite a um novo  estudante (bleu/caloiro) de passar do estatuto de caloiro ao de batizado"