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Felipe González diz que devia ter sido o rei Juan Carlos a anunciar decisão de abdicar

O antigo primeiro-ministro espanhol Felipe González afirmou  hoje que o rei Juan Carlos acertou na escolha do momento para abdicar, mas  considerou estranho que não tenha sido o monarca, mas sim o chefe do Governo  a anunciar a decisão. 

Felipe González, Mariano Rajoy, rei Juan Carlos José Luis Rodriguez Zapatero e José Maria Aznar em Janeiro de 2012 / AP
Paul White

Em entrevista à Cadena Ser, o antigo chefe do Governo espanhol disse  que a notícia não o surpreendeu, mas que causou um "certo incómodo" a sequência  do anúncio, já que teria sido razoável que fosse o rei, depois de comunicação  prévia ao chefe do Governo, a comunicar a decisão diretamente à nação. 

"Teria gostado de ter ouvido diretamente o rei", disse Juan Carlos.

González disse estar convicto de que se trata de uma decisão séria e  meditada sobre o futuro da instituição e que a mesma se deve à idade e não  a problemas ou dificuldades físicas. 

Para o ex-chefe do Governo, a sucessão na coroa deve servir de chamada  de atenção para "pôr as coisas no sítio" no atual momento de crise institucional,  económica e social. 

Noutra rádio, a Onda Cero, o também ex-chefe de Governo José Luis Rodríguez  Zapatero disse que Felipe de Borbón, que será o novo rei, é reconhecido  mesmo por aqueles que "não são partidários da monarquia", considerando que  "é difícil encontrar críticas" ao príncipe. 

Elogiando o futuro rei, Zapatero sublinhou que este é uma pessoa séria,  responsável, muito bem formada e "extraordinariamente meticuloso na análise  das questões". 

As circunstâncias em que o seu pai foi coroado, vincou, eram mais difíceis  e Felipe VI "terá agora que ter uma conversa diferente com a geração mais  jovem". 

Sobre o rei Juan Carlos, Zapatero recordou que era o primeiro a ligar-lhe  "quando havia más notícias, difíceis e duras para Espanha e para o Governo  e também a primeira" a congratulá-lo se as noticias eram boas. 

"A memória mais viva que tenho é dos dias que antecederam o final da  violência terrorista da ETA", declarou, recordando: "Eu sabia o que ia ocorrer  e quando o informei de que receberíamos o comunicado da ETA, lembro-me que,  no seu escritório, se levantou e me deu um abraço muito emocionado". 

O atual primeiro-ministro, Mariano Rajoy preside hoje a uma reunião  extraordinária do Conselho de Ministros, que terá como único ponto na agenda  a aprovação da lei orgânica que fixará o procedimento a seguir para a sucessão,  na sequência do anúncio da abdicação de Juan Carlos. 

A tramitação institucional até à proclamação de Felipe VI como próximo  rei de Espanha, poderá demorar entre três e seis semanas segundo cálculos  da Casa Real, prazo que decorrerá entre a aprovação, no Conselho de Ministros  de hoje da lei orgânica que permitirá formalizar a abdicação e a posteriormente  promulgação e a formalização da decisão anunciada. 

O rei de Espanha, Juan Carlos de Borbón y Borbón, 76 anos, anunciou  segunda-feira a sua vontade de entregar a coroa ao filho, Felipe, depois  de um reinado de 39 anos, um dos mais longos da história, para dar a vez  a uma nova geração "que reclama um papel de protagonismo". 

"Para os efeitos constitucionais procedentes, adjunto o escrito que  li e entrego ao senhor presidente do Governo neste ato, mediante o qual  lhe comunico a minha decisão de abdicar da Coroa de Espanha", lê-se no documento,  assinado por Juan Carlos e entregue ao primeiro-ministro, Mariano Rajoy.

 

Lusa