Em teoria, os catalães apenas vão escolher hoje - numas eleições antecipadas em cerca de 13 meses pelo atual presidente e líder da principal fação independentista, Artur Mas - a composição do novo Governo regional.
No entanto, a plataforma Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) - que junta o partido de Artur Mas, a Convergencia Democratica de Catalunya (CDC), a Esquerra Republicana Catalana (ERC) e vários movimentos cívicos - considera que as eleições constituem um "plebiscito" sobre a independência da região.
Os dirigentes da Junts afirmam que, caso obtenham a maioria absoluta no parlamento (pelo menos 68 deputados regionais) inicia um processo de negociações com Espanha, a União Europeia e os Estados-membros com vista à independência da Catalunha, no prazo de 18 meses. Podem ter de vir a contar com outro partido que apoia este caminho, a Candidatura de Unidade Popular (CUP, esquerda radical com posições anti-capitalismo e contra a União Europeia).
As outras forças políticas - Ciudadanos, Podemos (na sua versão catalã "Sí que es pot"), o PP da Catalunha, o Partido Socialista da Catalunha e a Unió Democratica de Catalunya (UDC) - estão contra esta via.
A campanha ficou marcada quase exclusivamente pela questão da independência (convertendo-se, assim, de facto num referendo sobre esta questão). As sondagens de todos os jornais colocam a Junts pel Sí muito perto ou já em terreno de maioria absoluta, mas fica a dúvida sobre se vai precisar ou não do apoio da CUP para ter maioria parlamentar.
Outra questão é que, apesar de considerar as eleições um referendo, a Junts pel Sí coloca a barreira da vitória no número de deputados e não na percentagem de votos (a vitória num referendo consegue-se com 50% dos votos mais um). As sondagens indicam que, graças ao método de Hondt (e a pesos diferentes do voto urbano e rural), é provável que os independentistas possam ter a maioria de deputados e ficarem abaixo dos 50% na votação.
Por outro lado, está claro que a 28 de setembro não haverá uma declaração de independência. No sistema eleitoral espanhol para as autonomias, os eleitores escolhem os deputados que preenchem o Parlamento regional, mas depois são estes que escolhem o presidente regional, abrindo caminho a acordos pós-eleitorais de desfecho imprevisível.
O atual presidente não surge como cabeça de lista da Junts (é o número 4) e, caso a CUP seja necessária para formar maioria (e é diferente a Junts precisar de um ou seis deputados da formação de extrema esquerda), a sua investidura como presidente pode estar em risco. As negociações para a escolha de presidente, no caso de não haver maioria absoluta de um único partido, podem durar meses (em votações sucessivas no novo parlamento)
A campanha ficou marcada pela questão da independência e as suas possíveis consequências, com o PP e o Governo espanhol (bem como líderes europeus e a própria comissão europeia) a defenderem a unidade de Espanha e a dizer que uma Catalunha independente ficaria automaticamente de fora da UE, de Espanha (os catalães renunciariam à nacionalidade espanhola), do sistema do euro, do espaço Shengen e das instituições internacionais.
Também foi levantada a possibilidade de uma saída em massa das empresas multinacionais da Catalunha, um fecho dos bancos, a impossibilidade do pagamento de pensões aos catalães (integrados na Segurança Social espanhola) ou o colapso do sistema de Saúde catalão. Até a permanência ou não do FC Barcelona na Liga espanhola foi discutida e usada como arma de campanha.
Os partidos independentistas consideram estes avisos como "ameaças sem sentido", defendendo que a Catalunha já faz parte da UE e não pode ser expulsa, que poderia usar o euro e que tudo isto carece de negociações que estão dispostos a fazer.
Lusa