A polícia da Malásia diz que foram encontrados vestígios deste químico letal nos olhos e na cara do norte-coreano. Kim Jong-Nam morreu a caminho do hospital em Kuala Lumpur no passado dia 13 depois de ter sido abordado no aeroporto por duas atacantes que terão esfregado o químico na sua cara.
O que é o VX?
Nome de código dado pelos cientistas norte-americanos que o fabricaram, é um composto organofosforado guardado em grandes quantidades nos EUA durante a Guerra Fria. É um dos agentes químicos mais mortais jamais produzidos, dez vezes mais potente que o gás sarin.
Inodoro e sem sabor no seu estado puro, é parecido com óleo de motor, viscoso e suficientemente estável para ser transportado e difícil de detetar, vantagens para um assassino em potência.
"Pode matar um adulto de 70 kg com apenas 5 mg na pele", explica à AFP um especialista em química japonês Yosuke Yamasato.
Como atua?
O VX ataca rapidamente o sistema nervoso. Quando inalado mata em minutos à medida que o gás se vai espalhando rapidamente pelos vasos sanguíneos.
Os agentes neurotóxicos estimulam em excesso as glândulas e os músculos, o que os fatiga rapidamente atacando a respiração. Em poucos minutos, a pessoa exposta ao químico fica com dificuldades em respirar e com náuseas, perde a consciência, entra em paragem cardíaca ou respiratória. Os sintomas dependem da dosagem e da forma como entra no organismo: inalado ou introduzido na pele.
Existem antídotos mas devem ser imediatamente administrados. Durante a primeira guerra no Iraque, os soldados norte-americanos levavam consigo injeções com o antídoto.
Como surgiu?
O VX foi criado num laboratório britânico no início dos anos 1950. Mas foram cientistas norte-americanos que o aperfeiçoaram, aumentando a sua potência durante a Guerra Fria. Ao que se sabe, não foi utilizado como arma de guerra.
Dezenas de milhares de toneladas foram produzidas nos Estados Unidos, mas o stock deverá ter sido destruído nos finais dos anos 1980, quando a Guerra Fria se aproximava do fim. Foram detetadas algumas fugas de laboratórios dos EUA e do Japão.
Suspeita-se que o antigo ditador Saddam Hussein tenha tido acesso ao VX, entre outras substâncias químicas, dado os resíduos encontrados na vila curda Halabja em 1988, onde morreram mais de 5 mil pessoas.
Em 1994, a seita japonesa Aum (Verdade Suprema) utilizou gás VX no assassínio de um funcionário em Osaka. Em 1995, a mesma seita utilizou gás sarin para o atentado no metro de Tóquio que matou 13 pessoas e intoxicou 6 mil.
Estatuto legal
O VX está na lista das armas de destruição massiva das Nações Unidas.
Segundo a Convenção Internacional sobre a Proibição de Armas Químicas (OPCW), que entrou em vigor em 1997, os países têm de declarar os seus stocks de VX e são obrigados a destruírem-nos.
"A Coreia do Norte não assinou esta convenção. Não é por isso surpreendente que possua o VX", disse à AFP Satoshi Numazava, professor japonês de química.
"Violação do Direito Internacional"
A Coreia do Sul considera que a utilização deste gás pela Coreia do Norte constitui uma "clara violação da Convenção para a Proibição das Armas Químicas e outras normas internacionais".
"A utilização de armas químicas é estritamente proibida em todo o lado, qualquer que seja a razão", sublinha o Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano em comunicado.
Em 2014, um relatório do Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmava que o Norte tinha começado a fabricar nos anos 1980 armas químicas, estimando stocks entre 2500 e 5 mil toneladas.
Em 2015, o think-thank norte-americano Nuclear Threat Initiative calculava que a Coreia do Norte era o terceiro país com o maior stock de armas químicas, a seguir aos EUA e à Rússia.