Como sempre, vestido de forma imaculada e com um certo pendor dramático, beijou a mão da sua advogada, Isabelle Coutant-Peyre, que é também a sua companheira, antes de mandar beijos para a imprensa no local.
Embora as atenções em França estejam agora centradas na ameaça 'jihadista', depois de uma série de ataques sangrentos, o julgamento faz remontar a uma época em que a Europa foi repetidamente palco de atentados perpetrados por grupos simpatizantes da causa palestiniana.
Carlos, um cidadão venezuelano cujo verdadeiro nome é Ilyich Ramirez Sanchez, foi batizado como "Carlos, o Chacal" pela imprensa quando se encontrava a monte e conseguiu despistar os serviços de segurança internacionais.A alcunha teve origem numa personagem ficcional, um terrorista do romance de Frederick Forsyth "O Dia do Chacal", publicado em 1971 e que foi adaptado ao cinema com grande êxito.
Detido pela polícia francesa em 1994, na capital sudanesa, Cartum, o homem que se descreve como um "revolucionário profissional" já está a cumprir uma pena de prisão perpétua pelo assassínio de dois polícias em Paris, em 1975, e pelo de um antigo camarada seu que considerava tê-lo traído.Foi também dado como culpado de quatro atentados bombistas em Paris e Marselha em 1982 e 1983, alguns tendo como alvo comboios, que fizeram um total de 11 mortos e quase 150 feridos.
"Ninguém na resistência palestiniana executou mais pessoas do que eu", declarou hoje, logo acrescentando: "Mas eu fui o único que sobreviveu. Em todas as lutas há vítimas colaterais, infelizmente".
O célebre criminoso, que reivindicou pessoalmente a autoria de 80 mortes e 1500 feridos para a sua organização, disse ainda: "Adoro pessoas. Eu sou uma boa pessoa, não gosto de violência".
Durante as próximas três semanas, Carlos, o Chacal será julgado por mais um ataque bombista, desta vez perpetrado na Drugstore Publicis, uma movimentada loja outrora situada no bairro de Saint-Germain-des-Prés, no coração da 'Rive Gauche' parisiense.
Ao final da tarde de 15 de setembro de 1974, uma granada foi atirada para a entrada da loja, matando dois homens e ferindo mais 34 pessoas.Este julgamento destina-se sobretudo a esclarecer melhor o interesse de Carlos em vitimar aquelas pessoas.Acusado de homicídios de natureza terrorista, Carlos, o Chacal nega qualquer envolvimento neste ataque.
Lusa