"Todas as bases governamentais das Frentes de Proteção Etno-Ambiental, que atualmente protegem as tribos isoladas da invasão de 'madeireiros' e fazendeiros, podem ser suspensas", de acordo com informações reveladas à ONG, citadas na nota. Para a ONG, "isso seria a maior ameaça enfrentada pelas tribos isoladas da Amazónia em décadas".
Segundo o comunicado, os agentes da FUNAI possuem um papel fundamental na proteção dos territórios dos isolados de 'madeireiros', fazendeiros, garimpeiros e outros invasores. Algumas equipas da organização governamental já estão a ser retiradas e existem planos de que outros também sejam em breve, sendo que, com esta saída, "milhares de invasores entrarão nos territórios" indígenas, indicou a Survival International no comunicado.
"Cortes no orçamento para proteger as tribos isoladas não têm, claramente, a ver com dinheiro - o valor envolvido é minúsculo. É uma manobra política do agronegócio que vê as tribos isoladas como uma barreira ao lucro e está de olho em áreas da floresta tropical que até agora estavam fora de seu alcance para a exploração. A realidade é que estes tipos de cortes podem ser uma permissão ao genocídio das tribos isoladas", disse o diretor da Survival, Stephen Curry, citado na nota.
A ONG estimou que existam mais de 100 tribos isoladas no Brasil, mais de dois terços da população global de povos isolados. Muitos destes vivem em territórios indígenas que totalizam mais de 54,3 milhões de hectares de floresta protegida, uma área semelhante à da França. Evidências demonstram que territórios indígenas são as maiores barreiras ao desflorestamento, indicou a organização.
"Estes territórios são protegidos por apenas 19 grupos (da FUNAI) dedicados. É possível que todos os grupos sejam eliminados do orçamento federal, apesar de o valor anual necessário para mantê-los seja menor do que o salário e benefícios pagos a apenas dois deputados federais brasileiros por ano", indicou o comunicado.
De acordo com a Survival International, estas propostas seriam as mais recentes numa longa lista de medidas aprovadas pelo Governo do Presidente brasileiro, Michel Temer, e podem "ter consequências catastróficas para os povos indígenas no Brasil".
"Muitos afirmam que os laços do Governo brasileiro com poderosos membros do agronegócio e da 'bancada ruralista (deputados ligados aos grandes proprietários de terras, que consideram os territórios indígenas uma barreira a sua própria expansão) podem ser parte da motivação por trás de tal proposta.
Uma grande mobilização nacional, o 'Acampamento Terra Livre', está a ocorrer esta semana, em Brasília, contrapropostas do Governo de enfraquecer drasticamente os direitos dos indígenas.
"As tribos isoladas são os povos mais vulneráveis do planeta. Populações inteiras estão a ser dizimadas pela violência do genocídio feito por estranhos que roubam suas terras e recursos, e por doenças como a gripe e o sarampo, às quais não têm resistência", avaliou a ONG.
A Survival International está a liderar uma luta global pelo direito das tribos isoladas a suas terras e de determinar seus próprios futuros.
Lusa