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OEA condena julgamentos de civis por militares na Venezuela

A Organização de Estados Americanos (OEA) condenou hoje julgamentos de manifestantes civis em tribunais militares na Venezuela e afirmou que o Estado de Direito "não existe" no país.

OEA condena julgamentos de civis por militares na Venezuela
Marco Bello

Os processos em tribunais militares contra civis "são um absoluto despropósito em termos jurídicos", afirmou o secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

"Na Venezuela, o Estado de Direito não existe, nem sequer como aparência", sublinhou, em comunicado. O responsável afirmou que "há elementos das ditaduras que são inconfundíveis", um deles "a passagem de civis à justiça militar".

"O regime cívico-militar da Venezuela representa o pior de cada ditadura. Isso inclui o controlo tirânico sobre as liberdades políticas e as garantias fundamentais das pessoas, a eliminação da atuação dos poderes do Estado de representação popular, os presos políticos e a tortura", destacou.

Para a OEA, os "coletivos armados"(motociclistas afetos ao regime do Presidente Nicolas Maduro) são "uma espécie de camisas negras do fascismo, com ordem de atacar civis durante as manifestações".

Na mesma nota, o secretário-geral da organização afirmou que as acusações de desrespeito e de instigação à rebelião, e outras semelhantes, "fazem parte de um discurso reacionário, desprovido de fundamentos legais" aplicado contra os manifestantes.

"A realidade é que, simplesmente, cumprem o propósito de privar da liberdade quem protesta pacificamente. Quando um Governo considera que o seu povo é uma ameaça à sua continuidade é porque a estratégia é continuar sem o povo, a partir do uso da força", explicou.

A OEA sublinhou que esta atuação do regime viola a Constituição da Venezuela, que limita "a competência dos tribunais militares a delitos de natureza militar". A organização pan-americana indicou que civis em vários estados da Venezuela foram detidos e "submetidos à justiça militar", liderada pelo general-chefe Vladimir Padrino López, "autoridade máxima da Justiça Militar", seguindo-se o general Jorge Timaure Tapia, presidente do Tribunal Marcial, a capitã Síria Venero de Guerrero, procurador geral militar, e o general de brigada Óscar Gil Árias, defensor público militar.

"Esta cadeia de comando não tem direito de perseguir, nem deter, intimidar e amedrontar, esconde-se em conspirações imaginárias e ignora as suas responsabilidades. Esta criminalidade ditatorial de assumir a justiça de civis pelo poder militar não terá impunidade", sublinhou.

De acordo com a OEA, a solução é realizar "eleições gerais imediatas para que o povo da Venezuela possa expressar-se e redemocratizar o país".

O julgamento de civis por tribunais militares "viola todos os princípios básicos da democracia e direitos humanos", acrescentou a nota, explicando que os tribunais militares foram criados para militares por atos cometidos em serviço. "O Executivo tenta levar os presos políticos à justiça militar para poder manipular ilegitimamente as decisões e mantê-las distantes da vida pública", sublinhou.

Lusa