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No futuro poderão existir mais 200 milhões de refugiados devido às alterações climáticas

Uma ativista e especialista em questões migratórias admitiu hoje que nos próximos anos poderão existir mais 200 milhões de refugiados devido às contínuas alterações climáticas e sem instrumentos internacionais para os proteger.

No futuro poderão existir mais 200 milhões de refugiados devido às alterações climáticas
James Akena

"Para além dos atuais 300 milhões de refugiados no mundo, nos próximos anos haverá outros 200 milhões, que serão refugiados climáticos. E não existem instrumentos internacionais para os proteger. A Convenção de Genebra não inclui os refugiados climáticos, mas eles também vão morrer, porque o clima muda", considerou em declarações à Lusa Lora Pappa, fundadora e presidente da Ação para Migração e Desenvolvimento (Metadrasi, uma organização não governamental grega fundada em 2010).

A ativista grega, laureada em 2015 com o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, confrontou-se com a realidade dos incontroláveis fluxos migratórios em 2015 e 2016 entre as costas da Turquia e a Grécia, que baixaram radicalmente na sequência do "acordo UE-Turquia" de março de 2016, e que lhe merece muitas críticas.

"É mais uma declaração, não é um acordo... e foi feito numa situação de pânico, o que não é positivo. Perdemos a ocasião, enquanto UE, de apoiar a Turquia, de melhorar o sistema de proteção", considerou.

"Caso a Turquia desse alguns passos nesse sentido, poderíamos estabelecer um acordo. Mas estávamos em pânico, fizemos esse suposto acordo, é verdade que o fluxo migratório diminuiu, mas em simultâneo aumentaram as redes de traficantes na Grécia e na Europa", acrescentou a responsável da Metadrasi, que participou hoje no painel "Gerir as Migrações", no primeiro dia do 23.º Fórum Lisboa do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa.

A iniciativa, sob o tema "Interligando as pessoas: gerir as migrações, evitar o populismo, construir sociedades inclusivas e reforçar o diálogo norte-sul", decorre até sexta-feira no Centro Ismaili da Rede de Desenvolvimento Aga Khan.

O falhanço no combate às redes de traficantes, após o fluxo migratório ter sido desviado para o Mediterrâneo central a partir de meados de 2016, e a linguagem difusa dos responsáveis políticos também são aspetos decisivos para a ativista grega.

"Seria importante que os políticos falassem honestamente às pessoas. Não é possível travar este fluxo. Continuamos a propagar o conto de fadas de que é possível parar o fluxo migratório. E existe aqui uma escolha difícil: que a prioridade consista em travar, por qualquer meio, um caminho muito perigoso para a democracia, ou enfrentar esta realidade".

Ainda numa referência ao acordo com a Turquia, que entre diversas medidas prevê o repatriamento de indocumentados ou de migrantes a quem foi recusado o pedido de asilo, Lora Pappa alertou para a formação de "zonas-tampão" em Estados com "inúmeros problemas", incluindo em "pequenos países" como a Jordânia, o Líbano, mesmo a Grécia".

"Com estas políticas, criam-se "zonas-tampão, e não é seguro que esses políticos escolham entre o seu futuro político ou em proteger os refugiados", admitiu.

"Pensam nos resultados das próximas eleições, e intensificarem-se as expulsões de refugiados, mesmo para os seus países de origem onde a sua vida está em perigo, ou afastá-los cada vez para mais longe, e ignorar os movimentos dos traficantes. É um caminho muito perigoso para a Europa", concluiu.

Lusa