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A história de amor entre uma ex-militante da Frente Nacional e um refugiado

A história de amor de Béatrice Huret e Mokhtar começa em fevereiro de 2015 no campo de refugiados de Calais, em França, quando ela, uma ex-militante da Frente Nacional, se apaixona por um refugiado. Numa entrevista à BBC a francesa de 45 anos falou abertamente sobre a sua relação e o livro "Calais Mon Amour" que conta a história do casal.

A história de amor entre uma ex-militante da Frente Nacional e um refugiado

Béatrice Huret, de 45 anos, foi militante do partido francês de extrema-direita Frente Nacional até 2010, ano em que o marido morreu. Numa entrevista à BBC, Huret conta que apenas se filiou ao partido que faz oposição à imigração por influência do marido que, segundo ela, era racista. A francesa foi casada com um dos polícias enviados para o campo de Calais para impedir que os refugiados não entrassem no terminal do Canal da Mancha.

Apesar do marido ser racista, Béatrice Huret garante que nunca foi contra os refugiados e sempre se preocupou com todas as pessoas que estavam a entrar em França.

Béatrice Huret vivia com o filho e a mãe a cerca de 20 quilómetros da "Selva de Calais". Apesar da distância não ser muito longa, Huret conta que nunca tinha visto de perto as condições em que os refugiados se encontravam. Um dia ofereceu boleia a um adolescente refugiado e foi então que viu pela primeira vez "a casa" dos refugiados que chegavam diariamente ao campo.

"Senti-me como se estivesse numa área de guerra. Era como um campo de guerra. Alguma coisa fez 'click' e disse para mim mesma que tinha de ajudar aquelas pessoas"

A partir desse momento começou a levar comida e roupas para as pessoas que estavam no local.

Em fevereiro de 2016, Béatrice Huret conheceu Mokhtar, um ex-professor de 34 anos que foi obrigado a fugir do Irão onde era perseguido por se ter convertido ao cristianismo. Mokhtar foi um dos homens que coseu os lábios num protesto contra as condições precárias do campo de refugiados de Calais.

"Eu sentei-me e ele gentilmente ofereceu-me um chá. (...) Foi amor à primeira vista"

A comunicação entre ambos foi o mais difícil, Mokhtar não sabia falar francês e Béatrice não tinha muitos conhecimentos de inglês. O Google Tradutor foi a "salvação" do casal. Começaram a falar com mais regularidade até que Béatrice convidou Mokhtar e alguns amigos para irem viver em sua casa.

Mokhtar e os amigos pediram a Béatrice que comprasse um barco para que conseguissem chegar ao Reino Unido. A viagem começou no dia 11 de junho de 2016. Mokhtar e mais três amigos levaram o barco até uma praia de Dunkirk e partiram ainda de madrugada. Acabaram por ser resgatados pela guarda costeira britânica e levados para o campo de refugiados em Wakefield, no norte de Inglaterra. Na semana seguinte Béatrice Huret foi visitar Mokhtar.

O ex-professor já pediu asilo mas o casal não faz planos para o futuro por não saber se as coisas vão correr bem.

“Se o nosso relacionamento acabar, acabou. Eu devo ao Mokhtar uma linda história de amor, a mais bonita da minha vida”

O casal comunica todos os dias através de vídeo chamada e Béatrice viaja de duas em duas semanas para visitar Mokhtar na cidade de Sheffield, também no norte de Inglaterra.

Em agosto do ano passado a francesa de 45 anos foi acusada de tráfico de pessoas. Enquanto aguarda julgamento, marcado para o final do mês, tem de fazer presenças semanais na polícia. Caso seja considerada culpada, Béatrice corre o risco de ficar 10 anos na prisão e pagar uma multa de 750 mil euros. Para além disto foi também colocada numa lista de pessoas que representa uma ameaça ao Estado.

Questionada pela BBC se tudo valeu a pena, Béatrice Huret responde "Sim" sem hesitação. "Eu fiz por ele. E faço qualquer coisa por amor".

Uma história de amor que pode ser lida em "Calais Mon Amour", lançado recentemente na Europa.