Num discurso proferido no Conselho de Segurança, reunido numa rara sessão pública sobre a Birmânia, Guterres exigiu também que o Governo birmanês "garanta o regresso em segurança, voluntário, digno e duradouro" às suas regiões de origem dos refugiados que fugiram para o Bangladesh.
"A realidade no terreno exige uma ação -- uma ação rápida -- para proteger as pessoas, atenuar o seu sofrimento, impedir mais instabilidade, atacar a raiz do problema e assegurar uma solução duradoura", sustentou o secretário-geral das Nações Unidas.
A situação da minoria muçulmana rohingya tornou-se "um pesadelo humanitário e no domínio dos direitos humanos", frisou.
Referindo testemunhos que dão conta de um "excessivo recurso à violência e de graves violações dos direitos humanos", de "disparos à queima-roupa" e utilização de minas, bem como de "violência sexual", o responsável máximo da ONU sublinhou que tal "é inaceitável" e deve "parar imediatamente".
Se nada for feito para pôr "um fim a esta violência sistemática", ela "arrisca-se a alastrar ao centro do estado de Rakhine, onde mais 250.000 muçulmanos poderão ver-se obrigados a fugir", salientou Guterres.
Por fim, o secretário-geral da ONU indicou que se realizará uma conferência de doadores a 09 de outubro, por iniciativa da organização, embora não tenha precisado onde decorrerá.
Estima-se que os rohingyas - uma minoria étnica não reconhecida pelas autoridades birmanesas - sejam cerca de um milhão, havendo entre 10.000 e 20.000 pessoas dessa etnia, exaustas, esfomeadas e por vezes feridas a franquear diariamente a fronteira para o Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo.
Perante a dimensão do êxodo, que hoje atingiu o número simbólico de meio milhão de refugiados chegados ao Bangladesh desde 25 fim de agosto, a ONU falou mesmo em "limpeza étnica", tendo o Conselho de Segurança exigido, a 13 de setembro, à Birmânia medidas "imediatas" para fazer cessar a "violência excessiva" no estado de Rakhine.
Nos seus relatos, os refugiados descrevem massacres, incêndios de aldeias, torturas e violações coletivas.
A violência e a discriminação contra os rohingyas intensificaram-se nos últimos anos: tratados como estrangeiros na Birmânia, um país mais de 90% budista, são a maior comunidade apátrida do mundo.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Lusa