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Grupos feministas contra retrospetiva de Roman Polanski na Cinemateca Francesa

Várias associações feministas pediram à Cinemateca Francesa, em Paris, para desmarcar uma retrospetiva da carreira do cineasta Roman Polanski, agendada para a próxima segunda-feira, devido às acusações de abusos sexuais de que é alvo.

Grupos feministas contra retrospetiva de Roman Polanski na Cinemateca Francesa
Arnd Wiegmann

Face aos múltiplos pedidos, reunidos em forma de petição, o diretor da Cinemateca, Fréderic Bonnaud, denunciou hoje uma "lógica de linchamento", mantendo a sua intenção de avançar com a retrospetiva programada, que termina a 03 de dezembro.

"A Cinemateca não dá recompensas nem certificados de boa conduta. A nossa ambição é diferente e consiste em mostrar as obras dos cineastas na sua totalidade, colocando-os no fluxo da história permanente do cinema", salientou Bonnaud em comunicado.

Na sua perspetiva, "o trabalho de Polanski, que inclui filmes de género e com confissões dolorosas, relata as inúmeras tragédias do século XX (...) de forma sublime".

Entre a projeção das longas-metragens do realizador franco-polaco, a instituição pretende, ainda, organizar uma palestra acerca do filme "O Escritor Fantasma" (2010) - distinguido com vários prémios, entre os quais o César de melhor realizador, em 2011 - bem como dar ao público a possibilidade de assistir à antestreia do projeto mais recente de Polanski, intitulado "D'après une histoire vraie".

O cineasta irá marcar presença na exibição inédita do filme em questão.Em resposta aos eventos da retrospetiva, que consideram "mais uma provocação sexista", vários membros da associação "Osez le feminisme" irão concentrar-se à frente da Cinemateca.

"O 'caso Weinstein' e a onda de denúncias que o seguiram evidenciaram toda a misoginia do mundo cinematográfico, repleto de produtores, realizadores e atores que cometem violações e agressões sexuais com impunidade", frisou a associação feminista a cargo da manifestação, que qualifica Polanski como "um violador pedocriminal reincidente em fuga".

Roman Polanski saiu dos Estados Unidos em 1977, após Samantha Geimer - na altura uma jovem de 13 anos - ter apresentado uma queixa por violação.

Contudo, depois de se declarar culpado, decidiu abandonar o país, refugiando-se na Suíça e mantendo o estatuto de fugitivo.

Por sua vez, Geimer já disse ter perdoado Polanski, com intenção de encerrar o seu caso, apesar de acusações posteriores de assédio sexual, da parte de outras mulheres.

O vencedor da Palma d'Ouro de 2002 - distinção máxima atribuída no Festival de Cinema de Cannes - pela longa-metragem "O Pianista", renunciou este ano à presidência do júri dos prémios César - equivalentes aos Óscares, em França - na sequência de protestos.

Lusa