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"Por favor, mantenha as crianças longe das armas", a carta de uma menina de 7 anos e a resposta de Trump

A carta de Ava Olsen ao Presidente norte-americano foi escrita no verão passado, a resposta da Casa Branca foi enviada no final de 2017 e foi agora divulgada pelo The Washington Post. A menina, na altura com 7 anos, dirigiu um apelo comovente a Donald Trump, no qual relatou o acontecimento traumático de que foi testemunha em Townville, e que levou à morte do seu melhor amigo, que "amava" e com quem "planeava casar".

O envelope chegou na véspera de Natal e a atenção de Mary Olsen, mãe de Ava, recaiu de imediato no remente inesperado "Casa Branca". Abriu e leu a carta antes de a entregar à filha, com receio de que o seu conteúdo pudesse de alguma maneira perturbar a menina, já fragilizada pelo tiroteio que presenciou.

"Cara Ava,
Obrigada pela tua carta. Foste muito corajosa em partilhar a tua história comigo. O sr. Trump e eu lamentamos muito saber que perdeste o teu amigo, Jacob."

Assim começa a carta que a Casa Branca enviou a Ava. Mais de um ano antes, ao final da tarde, a pequena localidade no estado da Carolina do Norte, Townville, onde a menina vive e estuda, foi palco de um tiroteio que causou três mortes.

Ava brincava num parque infantil junto à escola, a Townville Elementary School, quando um adolescente de 14 anos disparou durante 12 segundos sobre quem ali se encontrava. Uma bala atingiu a professora de Ava no ombro, outra um colega de turma e uma terceira o grande amigo Jacob, que acabaria por morrer três dias depois.

A menina assistiu a tudo e ficou profundamente abalada. Os médicos que a acompanharam diagnosticaram-lhe stress pós-traumático e recomendaram que o ensino passasse a ser feito em casa.

Apesar de ter deixado de ir à escola, o seu irmão mais novo, que também presenciou o tiroteio, continuou a ir. Preocupada com o que lhe pudesse acontecer, a ele e a todas as outras crianças, Ava decidiu que iria escrever uma carta a Donald Trump.

Numa manhã de agosto, sentou-se na cozinha e pegou em lápis e papel para redigir um apelo ao Presidente. Um texto no qual contou a sua história:

"Caro Sr. Presidente,
(...) Vi e ouvi tudo o que se passou e tive muito medo. O meu melhor amigo, Jacob, foi atingido e morreu. Isso deixou-me muito triste. Eu amava-o e ia casar com ele um dia. Odeio armas. Arruinaram a minha vida, levaram o meu melhor amigo".

Depois de relatar tudo por que tinha passado, Ava faz um apelo a Trump:

"Por favor, mantenha as crianças longe das armas".

A carta de Ava na íntegra publicada no jornal The Washinton Post.

Jesse Osborne, o jovem que disparou em Townville estudou na mesma escola de Ava, onde os professores o recordam como um aluno modelo. A família diz que a vida de Jesse mudou quando passou para o 7º ano e passou a ser alvo de bullying.

A 28 de setembro de 2016, por razões que continuam por desvendar, Jesse decidiu ir buscar a arma do pai, disparou contra ele e, de seguida, em frente à Townville Elementary School.

Jesse Osborne deverá saber este mês se será julgado como menor. Caso a decisão judicial opte por um julgamento como maior de idade, o jovem poderá enfrentar uma setença de dezenas de anos de prisão.

Ava reagiu à carta de Trump com surpresa, não esperando já qualquer resposta do "homem mais poderoso do Mundo".

"Trump recebe milhares de cartas, muitas de crianças", referiu uma porta-voz da Casa Branca ao The Washington Post, que pediu o anonimato.

"O Presidente recebe muitos desenhos, que adora", referiu, sem mencionar a quantas cartas Trump responde nem quantas das que assina ajuda a redigir. Mas "o Presidente dá o seu cunho pessoal a algumas das que passam pela sua secretária", como é o caso da de Ava, sublinhou a porta-voz.