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Human Rights Watch denuncia prisões "arbitrárias" de candidatos da oposição às presidenciais egípcias

A Human Rights Watch (HRW) criticou esta segunda-feira veementemente as autoridades egípcias por uma série de prisões "arbitrárias" de opositores políticos do Presidente Abdel-Fattah el-Sissi, a um mês das eleições presidenciais que a ONG considera "injustas".

Human Rights Watch denuncia prisões "arbitrárias" de candidatos da oposição às presidenciais egípcias
Mohamed Abd El Ghany

Através de um comunicado, a HRW exorta à libertação de Abdel-Monaem Abul Fotouh, candidato presidencial em 2012 e um proeminente islamita, detido no início de fevereiro com diversos dirigentes partidários e inscrito numa "lista de terrorismo" que o proíbe de viajar e impõe o congelamento de todos os seus bens, por alegados vínculos com a ilegalizada Irmandade Muçulmana.

A HRW, com sede nos Estados Unidos, indica que a intensificação da repressão e a utilização de acusações de terrorismo contra ativistas pacíficos reflete uma estratégia do governo para silenciar as vozes críticas com a aproximação do escrutínio.

"A prisão de Abdel Fotouh confirma a mensagem do governo de que é proibida qualquer crítica ao Presidente el-Sissi quando se aproximam as eleições presidenciais", disse Sarah Leah Whitson, diretora da secção Médio Oriente e África do Norte da organização de direitos humanos.

"As eleições deveriam estimular o debate político e refletir a vontade popular, mas o governo de el-Sissi pretende assegurar com a sua dura repressão que isso não vai suceder no Egito".

Abdel Fotouh, dirigente do Partido Egito Forte (Hizb Misr al-Qawia, uma formação centrista fundada em 2012), foi o último de um conjunto de proeminentes figuras da oposição detidas desde janeiro, incluindo o seu adjunto, el-Kassas, também preso por alegadas ligações à Irmandade Muçulmana.

Hoje, um tribunal de segurança estatal prolongou a detenção de Abdel Fotouh por mais duas semanas.

As autoridades também detiveram Abdel-Latif Talaat, secretário-geral do Partido Al-Wasat (centrista), e Hesham Genea, ex-auditor principal do executivo egípcio e antigo colaborador do ex-chefe de estado-maior militar, Sami Annan, que foi preso em janeiro apenas alguns dias após ter manifestado a intenção de se candidatar às presidenciais.

Todos permanecem sob prisão.

As autoridades programaram a eleições presidencial entre 26 e 28 de março para garantir a vitória de el-Sissi, que agora apenas tem como adversário um obscuro político sem qualquer representatividade.

Outras importantes tentativas para apresentar candidaturas contra o general el-Sissi, promotor do golpe que em 2013 derrubou o Presidente islamita eleito Mohamed Morsi, foram protagonizadas por Mohammed Anwar Sadat, sobrinho do ex-presidente Anwar Sadat assassinado em 1981, e pelo advogado de direitos humanos Khaled Ali, mas ambos retiraram as candidaturas ao referirem que os serviços de segurança boicotaram e promoveram perseguições às suas campanhas.

O antigo oficial da Força Aérea Ahmed Shafiq, que regressou de um exílio autoimposto, também abandonou a candidatura presidencial após ser sequestrado pelas autoridades, que o ameaçaram por alegada corrupção.

O pouco conhecido coronel do exército Ahmed Konsowa também manifestou a intenção de concorrer, mas foi enviado a tribunal militar sob a acusação de ativismo político proibido e condenado a seis anos de prisão.

Lusa