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Está mais frio na Europa que no Pólo Norte

Temperaturas glaciares espalharam-se por grande parte da Europa esta semana. Em Roma caiu neve pela primeira vez em seis anos; o Reino Unido emitiu um alerta vermelho por causa dos nevões; a Noruega registou um recorde de temperatura: 42ºC negativos.

Dublin, Irlanda
Dublin, Irlanda
Clodagh Kilcoyne / Reuters

Mas se na Europa se sente um frio polar, no verdadeiro Ártico as temperaturas estão bastante amenas. No pico do inverno, o Polo Norte está nos 0ºC, segundo estimativas, porque não há estação meteorológica.

Isto são cerca de 30ºC acima do que é normal para a época.

Existe "uma situação de bloqueio anticiclónico no norte da Escandinávia (...) com uma subida de ar ameno da Islândia para o Polo Norte de um lado e o anticiclone do outro, descida de ar frio do Ural e da Rússia ocidental para a Europa ocidental", disse à agência AFP um meteorologista da Meteo-France, Etienne Kapikian.

A "Besta do Leste" ou o "Urso Siberiano"

Apontada como "A Besta do Leste" pelos meios de comunicação britânicos, "O Urso Siberiano" pelos media na Holanda ou o "Canhão de Neve" na Suécia.

Estes são os nomes que os europeus de países diferentes deram à tempestade gelada que varre o continente.

Há alguma relação entre o calor no Ártico e o frio na Europa?

Muito provavelmente, diz o climatologista Judah Cohen ao New York Times, autor do estudo que associa o aquecimento do Ártico às vagas de frio no resto do hemisfério norte - o vórtice polar.

Este vórtice polar é um sistema de baixa pressão que normalmente paira sobre o Polo Norte (há também um vórtice polar na Antártica). Quando se comporta normalmente, ajuda a manter o ar frio no Ártico.

"Aprisiona o ar frio a grandes altitudes na região do Ártico", explica Judah Cohen, comparando o vórtice polar a uma barragem que impede que o ar gélido se espalhe pelo resto do hemisfério norte.

Mas por vezes a barragem rebenta quando o vórtice enfraquece. E isto está a acontecer com mais frequência, com quase certeza absoluta por causa do aquecimento global do planeta.

É este um episódio excecional? Sim, mas nem tanto

"Temperaturas positivas no Polo Norte no inverno foram registadas quatro vezes entre 1980 e 2010 (...). Mas agora ocorreram em quatro dos últimos cinco invernos", disse à AFP o climatologista Robert Graham, do Instituto Polar Norueguês.

"Tivemos um inverno excecional no Ártico, o precedente também já tinha sido e não arriscamos muito se dissermos que o próximo também vai ser (...). É o aquecimento do Ártico", reforçou Etienne Kapikian.

Será que se pode atribuir esta situação às alterações climáticas?

"É difícil dizer que um acontecimento está ligado ao aquecimento global. Mas esta tendência que observamos, um Ártico quente, um continente frio, pode estar ligada às alterações climáticas", respondeu Marlene Kretschmer, climatologista no Instituto de Potsdam para a investigação sobre as alterações climáticas.

Estes episódios de subida das temperaturas não são uma boa notícia para o gelo do Ártico, cuja superfície nunca foi tão reduzida nesta época desde o início dos registos, há mais de 50 anos.