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Como o cérebro do "Homem de gelo" controla resistência ao frio

Wim Hof tem uma resistência ao frio nunca vista num ser humano. É capaz de estar praticamente nu a correr uma meia-maratona no Círculo Polar Ártico ou passar 72 minutos numa banheira cheia de cubos de gelo. São duas das 21 façanhas que reclama como suas - tão impressionantes como inúteis. Mas os cientistas ficaram intrigados e quiseram levá-lo para o laboratório para perceber o mistério. E tiraram conclusões surpreendentes.

Wim Hof aos 51 anos mergulha num banho gelado
Wim Hof aos 51 anos mergulha num banho gelado
Tyrone Siu / Reuters

O holandês de 58 anos atribui a sua excecional resistência ao frio a um método que alia a meditação e o controlo da respiração.

"Toda a gente é capaz de aprender aquilo que consigo fazer", garante na promoção do seu "Método Wim Hof".

Se a sua capacidade de resistência ao frio deriva do seu método ou não, o "Homem de Gelo" é um mistério para a ciência e teve de ser estudado em laboratório.

Atividade cerebral controla o calor do corpo?

Especialistas em neuroimagiologia da Universidade Wayne State de Detroit quiserem perceber como funcionava o cérebro de Wim Hof e como reagia à exposição do corpo a um frio glaciar.

Utilizaram ressonância magnética - que permite avaliar a atividade cerebral - e tomografia PET - que deteta a atividade metabólica dos outros órgãos como a pele, os pulmões, o coração, etc..

Durante três dias, Wim Hof foi sujeito a testes que submeteram os seu corpo a temperaturas diferentes. Para isso vestiu um fato especial dentro do qual circulava água gelada. O objetivo era induzir uma "hipotermia controlada", escrevem os autores do estudo publicado na NeuroImage.

Os autores da investigação, Otto Muzik e Vaibhav Diwadkar, concluíram que Wim Hof tem uma capacidade "fora de vulgar" de "regulação voluntária da temperatura da pele, logo do corpo, mesmo quando o corpo está sujeito ao frio", dizem em comunicado.

Mais ainda, os investigadores detetaram um aumento significativo da atividade do sistema nervoso simpático - sistema que é autónomo e que controla várias atividades automáticas, como o ritmo cardíaco, a vasoconstrição, a pressão arterial, etc..

E ainda mais: observaram um elevado consumo de glucose pelos músculos intercostais - que fazem parte da mecânica respiratória. Isto faz com que haja uma geração de calor que se difunde para os tecidos pulmonares e que aquece o sangue.

Stress induzido liberta espontâneamente analgésicos

Muzik e os colegas detetaram ainda atividade invulgar no tronco cerebral superior - região associada aos mecanismos cerebrais para o controlo da dor.

"Nesta região o controlo da dor é exercido libertando opióides e canabinóides", acrescenta a equipa.

Os investigadores avançam, assim, com a hipótese de Wim Hof ter desenvolvido a capacidade de suscitar, induzindo stress ao corpo, uma resposta analgésica.

Muito mais estudos são necessários fazer para perceber qual a ciência por trás das técnicas estranhas de Wim Hof.