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Putin e Trump são "dois dos principais perigos" para a Europa

A historiadora portuguesa Irene Flunser Pimentel considerou esta quarta-feira que os Presidentes dos Estados Unidos e da Rússia são os "dois dos principais perigos" de uma Europa que está sem visionários e que tem de se erguer para os enfrentar.

(Arquivo)
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Jorge Silva

Irene Pimentel, que falava aos jornalistas no final de uma conferência sobre os desafios da Europa, organizada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), defendeu que a Europa "não é, mas pode ser", uma figura "importante" no panorama mundial.

"A Europa será, talvez, a única potência, pelo seu tamanho, pelos valores democráticos, que se pode erguer face a [Vladimir] Putin e a [Donald] Trump, que são dois dos nossos principais perigos [para as democracias europeias] ", afirmou a vencedora do Prémio Pessoa 2007.

"Vamos ver agora o que vai acontecer na Europa face às medidas que Trump quer colocar. Bom, ele também está sempre a dar o dito por não dito, mas, para já, quer colocar grandes obstáculos à importação de ferro e aço", sublinhou.

Segundo a especialista em história contemporânea de Portugal, a Europa "está sem visionários", como os que abriram as portas de uma unidade europeia, o que tem permitido, também, a ascensão do populismo.

"[Falta de visionários] há. Isso é verdade. E também há um espírito anti-elitista, populista que é muito complicado. É que esses visionários eram um pouco das elites. As elites têm aspetos positivos e eu penso que há um bocadinho essa falta, a de alguém que possamos dizer que tem bons projetos", explicou.

Para Irene Pimentel, Angela Merkel, chanceler alemã, e Emmanuel Macron, Presidente francês, podem tornar-se "candidatos" a esse epíteto.

"Estão a tentar", disse.

"Merkel passou de uma figura vilipendiada e diabolizada, sobretudo em Portugal, a uma figura que teve uma atitude política de receção dos refugiados muito importante e que, aí, manteve, de facto, os valores europeus. Mas nunca sabemos o que vai acontecer a seguir", referiu.

"Primeiro era a epígona da grande Alemanha outra vez e, no fundo, veio dar uma importância bastante grande à questão dos refugiados, a mais importante também.

É isso e eliminar os populismos, que estão para ficar", acrescentou.

Para se chegar e este ponto, Irene Pimentel também responsabilizou os atuais políticos e partidos políticos.

"Também têm muita culpa. Já não dizem nada às pessoas: Há cada vez menos pessoas a entrar nos partidos políticos e os próprios políticos não têm ideologia, praticamente não se distinguem, e acabam por ser escolas de formação de elites", sustentou.

Outra questão é a corrupção na política, embora aí, segundo Irene Pimentel, seja necessário "politizar as pessoas" para a combater.

"A corrupção não é intrínseca à democracia. A corrupção é sobretudo intrínseca às ditaduras, que a permitem. As democracias são as que, em princípio, têm mecanismos para nos libertarmos [da corrupção] . Mas, para isso, é preciso uma politização das próprias pessoas e uma saída da indiferença", justificou.

Como soluções para uma Europa reabilitada, a historiadora defendeu a necessidade de se "acabar com a indiferença política e com a influência dos populismos e xenofobismos",

"Terá de haver uma ideologia política com um novo estilo, com novas ideias políticas viradas para resolver os principais problemas. Um dos principais problemas são os refugiados", realçou.

"Tal como diz a própria União Europeia (UE), são dez os desafios, que têm a ver, entre outros, com a receção dos migrantes, o desenvolvimento económico, o fim do desemprego, a questão do mercado digital e sobretudo as instituições europeias no sentido de uma maior democracia", realçou.

Lusa