Qual é o ponto em comum entre o laboratório farmacêutico suíço Novartis, o operador de telecomunicações AT&T e o empresário russo Viktor Vekselberg, próximo do Kremlin? Resposta: os três figuram como depositantes nas contas bancárias de Cohen.
O facto de estes pagamentos terem sido feitos a uma empresa fictícia fundada pelo advogado, aumenta a opacidade do caso e acentua as suspeitas sobre o jurista, que está sob inquérito penal. Até esta semana, Cohen, de 51 anos, era conhecido sobretudo por ter comprado o silêncio de Stormy Daniels, a vedeta de filmes pornográficos que terá tido relações sexuais com Trump.
Sabe-se que os investigadores da polícia federal (FBI, na sigla em Inglês) estão interessados em Cohen, no contexto da sua investigação à alegada interferência russa nas eleições presidenciais, mas desconhecem-se as razões precisas.
O gabinete do advogado nova-iorquino, que já se declarou pronto para aceitar um tiro na cabeça em vez de Trump, foi alvo de buscas no mês passado, com os polícias a apreenderem numerosos documentos.
Esta documentação pode estar associada àqueles pagamentos, revelados pelo advogado de Stormy Daniels, Michael Avenatti.
Este acusou Cohen de ter recebido cerca de 400 mil dólares da Novartis, 200 mil da AT&T e 150 mil da empresa aeroespacial sul-coreana Korea Aerospace Industries.
As somas foram pagas em nome da Essential Consultants, um gabinete de consultoria criado em outubro de 2016 por Michael Cohen, através do qual pagou 130 mil dólares (110 mil euros) a Stormy Daniels, reembolsados posteriormente por Trump.
A AT&T reconheceu na noite de terça-feira que tinha contactado Michael Cohen no início de 2017 para ter informações privilegiadas sobre os procedimentos internos da Casa Branca.
Esta empresa pretende adquirir o grupo de 'media' Time Warner, por 85 mil milhões de dólares, operação a que Trump se opõe. Segundo Avenatti, Cohen também recebeu 500 mil dólares da sociedade de investimentos Columbus Nova, o ramo norte-americano do grupo russo Renova, dirigido por Viktor Vekselberg.
Viktor figura numa lista de oligarcas próximos de Vladimir Putin sancionados no início de abril por Washington, em resposta ao envenenamento de um antigo espião russo em Londres. Vekselberg esteve presente na cerimónia de tomada de posse de Donald Trump, cuja equipa de campanha é suspeita de conluio com Moscovo para influenciar o resultado da eleição presidencial.
Avenatti acusa o advogado pessoal de Trump de ter recebido indevidamente somas elevadas em troca de contrapartidas associadas ao seu acesso à Casa Branca. "Michael Cohen não deveria ter monetizado o acesso ao presidente dos EUA", declarou na estação televisiva CNN.
"Isto parece o cenário típico do ato de ter alguém a soldo, no qual você tem alguém próximo de um homem político, no caso o presidente dos EUA, o que é muito raro, que vende uma possibilidade de contacto", estimou Avenatti.
"Não creio que (Cohen) se tenha declarado, como o deveria ter feito, representante de agentes ou interesses estrangeiros. É grave. Ele teve de receber este dinheiro por alguma razão", acrescentou o advogado.
Cohen aparece cada vez mais perto do banco dos réus. Alguns já preveem a sua próxima mudança radical de posicionamento, isto é, a passagem a uma situação de cooperação no inquérito à interferência russa, liderado por Robert Mueller. No sábado à noite, a emissão satírica 'Saturday Night Live' mostrava um Michael Cohen desesperado, interpretado pelo comediante Ben Stiller. Aí se via a telefonar para Trump, numa linha escutada pelo FBI.
"Como é que vais aguentar na prisão?", pergunta-lhe o falso presidente, interpretado por Alec Baldwin. "Não estou na prisão", responde-lhe a personagem Cohen. "Bah, deixa passar duas semanas,...", retorquiu a personagem Trump.
Lusa