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Jornalista saudita do Washington Post desaparecido em Istambul

Um jornalista saudita exilado nos Estados Unidos está desaparecido desde terça-feira à tarde, quando entrou no consulado saudita em Istambul, alertou o Washington Post, citado pela agência AP.

Jornalista saudita do Washington Post desaparecido em Istambul
SEDAT SUNA

Jamal Kashoggi entrou no Consulado Saudita para pedir documentos que permitissem o casamento com a sua noiva turca. Seguindo as ordens do consulado, e tal como acontece na maioria das embaixadas do Médio Oriente por questões de segurança, não levou o telemóvel consigo, tendo de o deixar do lado de fora, informou um amigo de Kashoggi, Turan Kislakçi.

"Não conseguimos comunicar com o Jamal hoje e estamos preocupados com a sua situação" afirmou numa declaração Eli Lopez, editora da secção de opinião internacional do jornal norte-americano Washington Post, com o qual o jornalista colabora.

Apesar de a sua noiva ter esperado a tarde toda à porta do Consulado, antes de alertar as autoridades turcas, a Arábia Saudita enviou hoje uma declaração à agência americana AP dizendo que "Khashoggi entrou no consulado para requerer documentos relativos ao seu futuro casamento, e saiu momentos depois".

"Não tive qualquer notícia da sua parte desde ontem às 13:00 (11:00 em Lisboa). Queremos saber onde ele se encontra", afirmou a noiva, Hatice A., que não pretende revelar o nome de família, em declarações à agência francesa AFP.

A polícia turca visualizou as gravações de duas câmaras de segurança posicionadas à entrada do consulado e reparou que Kashoggi entrou no estabelecimento e nunca saiu, afirmou ainda Turan Kislakçi.

Não foi obtida qualquer reação da parte do Consulado ou da Embaixada da Arábia Saudita em Istambul.Enquanto colaborador do Washington Post, Khashoggi escreveu extensivamente sobre a Arábia Saudita, criticando entre outros a intervenção militar no Iémen e a detenção de várias ativistas que pediam o fim da proibição de conduzir para as mulheres. A Arábia Saudita encontra-se no 169.º lugar em 180 países na classificação mundial da liberdade de imprensa estabelecido pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Riade tem vivido uma modernização desde que o Príncipe Mohammed ben Salmane foi designado herdeiro do trono em 2017. Ainda assim, a repressão contra os dissidentes não parou, com detenções de figuras religiosas, personalidades liberais e ativistas.

Kashoggi é um dos raros jornalistas saudita que tem criticado tal repressão."Atualmente, os cidadãos Sauditas já não percebem se existe uma parte de racionalidade por trás da infinita onda de detenções" escreveu Kashoggi dia 07 de agosto deste ano. "Estas detenções arbitrárias forçam muitos outros a manterem o silêncio, e alguns até abandonaram o país", acrescentou o jornalista.

Lusa