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Médico espanhol culpado por roubar e vender bebé na era de Franco sem sentença

O antigo ginecologista espanhol de 85 anos, Eduardo Vela, foi hoje considerado culpado por um tribunal de Madrid por detenção ilegal, falsificação de documento, certificação de falsos nascimentos e por entregar o bebé ilegalmente a uma família em 1969. É a primeira pessoa a ser julgada no caso dos "bebés roubados" durante a ditadura do general Franco, que afetou milhares de pessoas.

Ines Madrigal junto ao tribunal de Madrid no dia da leitura da sentença no primeiro julgamento do caso dos "bebés roubados" durante o franquismo.
Ines Madrigal junto ao tribunal de Madrid no dia da leitura da sentença no primeiro julgamento do caso dos "bebés roubados" durante o franquismo.
Manu Fernandez
Manu Fernandez

Meio século para chegar à justiça

Quase meio século depois, o médico que assinou a certidão de nascimento de Ines Madrigal enfrentou a sentença: é condenado por todos os crimes de que é acusado em tribunal: rapto de bebé, falsificação de documento oficial e encenação de parto. O problema é que os crimes prescreveram quando a queixosa completou 18 anos, em 1987.

No entanto a decisão pode não ser a final, podendo ainda ser apresentado um recurso junto do Tribunal Supremo.

O ex-obstetra que durante 20 anos dirigiu a Clínica San Ramon, em Madrid, foi um dos principais atores do caso de tráfico de recém-nascidos que envolveu milhares bebés desde a ditadura de Franco

O bebé cresceu

Ines Madrigal tem hoje 49 anos e é funcionária dos caminhos de ferro espanhóis. É a responsável por levar a tribunal o médico Eduardo Vela: o primeiro arguido no caso que ainda hoje melindra Espanha: o escândalo dos bebés roubados durante a ditadura de Franco.

A imprensa espanhola fala em 3.000 casos denunciados à justiça, mas quase todos acabaram arquivados.

Eduardo Vela enfrentava o cúmulo jurídico de 10 anos pelos três crimes, mas o tribunal de Madrid considerou que os crimes prescreveram.

O caso que ainda hoje faz tremer Espanha

O rapto e venda de bebés em Espanha pode ser dividida em dois períodos: até 1950, eram sobretudo nas prisões franquistas que os bebés eram retirados e entregues diretamente a famílias republicanas e opositoras ao regime. Mais tarde ocorreriam em clínicas ou abrigos para mães pobres e desenraizadas, geralmente geridas por organizações religiosas.