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Governo de Espanha anuncia suspensão de conversações com independentistas

Madrid acusou os independentistas catalães de rejeitarem a mais recente proposta de diálogo.

O governo de Espanha acusou esta sexta-feira os independentistas catalães de rejeitarem a mais recente proposta de diálogo do executivo socialista liderado por Pedro Sánchez e anunciou a suspensão das conversações.

"A proposta foi uma tentativa de colocar o diálogo num patamar ordenado, rigoroso e feito com convicção. (...) Ela não foi aceite", declarou a "número dois" do governo espanhol, Carmen Calvo, em declarações à comunicação social.

"Neste momento, a situação está em 'ponto morto' porque a proposta não foi aceite", acrescentou a vice-presidente do governo. A proposta em cima da mesa previa a criação, antes do fim do mês de fevereiro, de uma mesa negocial que integraria dois representantes de cada partido político, com capacidade de decisão a nível estatal e da região catalã, que contaria com a coordenação de um "relator" que iria ajudar a "criar as condições idóneas" para o diálogo.

"Os partidos independentistas exigem a aceitação de um referendo de autodeterminação que nunca será aceitável. Nunca para um governo como o nosso", prosseguiu Carmen Calvo.

"Quando as duas partes apoiam posições irreconciliáveis, devemos simplesmente parar. Não há outra solução", referiu.

Pedro Sánchez assumiu a liderança do governo espanhol no início de junho passado depois do sucesso de uma moção de censura, em parte por ter conseguido os votos dos parlamentares separatistas catalães.

Na altura, Sánchez manifestou vontade de retomar o diálogo com os separatistas, diálogo esse que tinha sido rompido pelo anterior primeiro-ministro espanhol do Partido Popular (PP), Mariano Rajoy.

Porém, as conversações revelaram, rapidamente, que as duas partes tinham interpretações diferentes: Sánchez admitia um referendo sobre uma maior autonomia da Catalunha, enquanto os independentistas mantinham a reivindicação de um referendo de autodeterminação.

Perante o pedido dos independentistas de uma mediação internacional entre o governo central espanhol e o executivo regional catalão (também conhecido como Generalitat), proposta que Madrid recusou, Pedro Sánchez aceitou a presença de um "relator" independente numa futura mesa negocial.

Esta ideia foi classificada como inaceitável pela direita (PP e Ciudadanos) e pela extrema-direita espanholas (Vox) que convocaram, para o próximo domingo em Madrid, uma manifestação contra Pedro Sánchez.

A ideia de um "relator" também suscitou críticas no seio do próprio Partido Socialista Espanhol (PSOE).

Apesar do governo socialista ter assegurado que as conversações com os separatistas catalães estão paradas e num impasse, o PP anunciou hoje que não acredita no executivo e vai manter a manifestação de domingo.

Fontes do PP consideraram que o governo cedeu às pressões dos espanhóis e agora "rompe o diálogo" com os separatistas "alegando que os separatistas queriam a secessão".

"Confirma-se a inaptidão do governo", referiram as mesmas fontes citadas pelas agências internacionais.

"Hoje mais do que nunca" a concentração de domingo "redobra o seu sentido", porque, segundo as mesmas fontes do PP, o executivo socialista liderado por Sánchez demonstrou "o seu vício de mentiras e enganos".

Também hoje foi divulgado que representantes da sociedade civil, ainda por determinar, irão ler um manifesto durante a manifestação contra a política do governo de Pedro Sánchez em relação à Catalunha.

Os líderes do PP (Pablo Casado), do Ciudadanos (Albert Rivera) e do Vox (Santiago Abascal) decidiram que não farão uma intervenção pública durante a concentração, que está a ser promovida sob o lema "Por uma Espanha unida. Eleições já".

Esta contestação ao governo espanhol surge a poucos dias do início do julgamento, na próxima terça-feira, de 12 dirigentes catalães pelo papel que desempenharam na tentativa de criar uma República catalã em outubro de 2017 e em plena discussão do orçamento do Estado, que Sánchez não conseguirá levar a votação no parlamento sem o apoio dos independentistas.

Estes últimos recusaram-se, até agora, aprovar o documento. Em caso de rejeição do orçamento, Sánchez poderá ser forçado a convocar eleições antecipadas antes do fim da legislatura em 2020.

Lusa