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Cerca de 300 quilómetros de rio contaminados devido ao desastre de Brumadinho

Empresa mineira Vale, proprietária da barragem que rebentou em Brumadinho, disponibilizou cerca de 5,1 milhões de litros de água aos produtores rurais.

Cerca de 300 quilómetros de rio contaminados devido ao desastre de Brumadinho
Adriano Machado

Pelo menos 305 quilómetros do rio Paraopeba, que atravessa o estado brasileiro de Minas Gerais, estão contaminados pelos resíduos provenientes da rutura da barragem de Brumadinho, informou a Fundação SOS Mata Atlântica, uma organização não-governamental (ONG).

Os resultados obtidos pela fundação resultaram de uma expedição que durou dez dias - e terminou no último sábado - em que foram percorridos mais de dois mil quilómetros por estradas federais, estaduais e rurais, passando por quintas e comunidades, acompanhando o leito do rio.

"O resultado, infelizmente, é estarrecedor. Por todo o percurso da expedição, desde a região de Córrego do Feijão (local onde colapsou barragem), onde os resíduos encontraram o rio Paraopeba, até ao reservatório de Retiro Baixo, em Felixlândia, em Minas Gerais, a equipa não encontrou água em condições de utilização. Ou seja, nos 305 quilómetros de rio analisados, a água estava imprópria, com qualidade péssima ou ruim", afirma a ONG na sua página na internet.

O procedimento utilizado foi o de recolha de amostras de água a cada 40 quilómetros percorridos, de forma a se obterem "resultados em tempo real sobre 14 indicadores", entre eles turbidez, oxigenação, nitrato e fosfato da água.

O rio Paraopeba tem uma extensão de 546,5 quilómetros e abrange 48 municípios de Minas Gerais, sendo que várias comunidades da região utilizam a água para subsistência, atividades económicas, para alimentar animais e para praticarem atividades de lazer.

"Existe ainda o impacto de valor imaterial, associado à cultura dessas comunidades, que não é tido em conta. Assim como no rio, este dano silencioso é de impacto profundo em várias gerações", frisa ainda a ONG.

Num comunicado divulgado hoje na sua página na internet, a empresa mineira Vale, proprietária da barragem que rebentou em Brumadinho, afirma que produtores rurais com atividades em nove municípios afetados pelo desastre estão a ser abastecidos com água para consumo humano, consumo animal e para irrigação, tendo disponibilizado até ao momento cerca de 5,1 milhões de litros de água.

A Fundação SOS Mata Atlântica planeia ainda apresentar, no dia 27, um relatório completo com todos os indicadores obtidos.

"A ideia é entregá-lo às autoridades, contribuindo para que melhores decisões sejam tomadas, e também para a sociedade, principalmente para quem ainda precisa viver daquele e naquele rio, para que tenham informações concretas sobre a situação local", adianta a ONG.

O desastre em Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro, quando uma das barragens nas quais a empresa mineira Vale armazenava resíduos rebentou, provocando uma avalanche de lama que soterrou as instalações da própria empresa e centenas de propriedades rurais, matando pelo menos 166 pessoas.

Lusa