Pelo menos 305 quilómetros do rio Paraopeba, que atravessa o estado brasileiro de Minas Gerais, estão contaminados pelos resíduos provenientes da rutura da barragem de Brumadinho, informou a Fundação SOS Mata Atlântica, uma organização não-governamental (ONG).
Os resultados obtidos pela fundação resultaram de uma expedição que durou dez dias - e terminou no último sábado - em que foram percorridos mais de dois mil quilómetros por estradas federais, estaduais e rurais, passando por quintas e comunidades, acompanhando o leito do rio.
"O resultado, infelizmente, é estarrecedor. Por todo o percurso da expedição, desde a região de Córrego do Feijão (local onde colapsou barragem), onde os resíduos encontraram o rio Paraopeba, até ao reservatório de Retiro Baixo, em Felixlândia, em Minas Gerais, a equipa não encontrou água em condições de utilização. Ou seja, nos 305 quilómetros de rio analisados, a água estava imprópria, com qualidade péssima ou ruim", afirma a ONG na sua página na internet.
O procedimento utilizado foi o de recolha de amostras de água a cada 40 quilómetros percorridos, de forma a se obterem "resultados em tempo real sobre 14 indicadores", entre eles turbidez, oxigenação, nitrato e fosfato da água.
O rio Paraopeba tem uma extensão de 546,5 quilómetros e abrange 48 municípios de Minas Gerais, sendo que várias comunidades da região utilizam a água para subsistência, atividades económicas, para alimentar animais e para praticarem atividades de lazer.
"Existe ainda o impacto de valor imaterial, associado à cultura dessas comunidades, que não é tido em conta. Assim como no rio, este dano silencioso é de impacto profundo em várias gerações", frisa ainda a ONG.
Num comunicado divulgado hoje na sua página na internet, a empresa mineira Vale, proprietária da barragem que rebentou em Brumadinho, afirma que produtores rurais com atividades em nove municípios afetados pelo desastre estão a ser abastecidos com água para consumo humano, consumo animal e para irrigação, tendo disponibilizado até ao momento cerca de 5,1 milhões de litros de água.
A Fundação SOS Mata Atlântica planeia ainda apresentar, no dia 27, um relatório completo com todos os indicadores obtidos.
"A ideia é entregá-lo às autoridades, contribuindo para que melhores decisões sejam tomadas, e também para a sociedade, principalmente para quem ainda precisa viver daquele e naquele rio, para que tenham informações concretas sobre a situação local", adianta a ONG.
O desastre em Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro, quando uma das barragens nas quais a empresa mineira Vale armazenava resíduos rebentou, provocando uma avalanche de lama que soterrou as instalações da própria empresa e centenas de propriedades rurais, matando pelo menos 166 pessoas.
Lusa