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Bens de Assange vão ser entregues pelo Equador aos Estados Unidos

Os EUA exigem a extradição do fundador do WikiLeaks depois de, em 2010, o australiano ter partilhado milhares de documentos sobre atividades militares do país.

Bens de Assange vão ser entregues pelo Equador aos Estados Unidos
Henry Nicholls

Dezenas de apoiantes de Julian Assange concentraram-se hoje frente à embaixada do Equador onde os pertences do fundador do WikiLeaks deverão ser apreendidos e entregues às autoridades dos Estados Unidos, que exigem a sua extradição.

O australiano de 47 anos refugiou-se em 19 de junho de 2012 na embaixada equatoriana com receio de ser detido pelas autoridades britânicas e de seguida eventualmente extraditado e julgado nos Estados Unidos pela difusão em 2010 de mais de 700.000 documentos sobre as atividades militares e diplomáticas norte-americanas.

Após sete anos nas instalações diplomáticas, Assange foi detido pela polícia britânica em 11 de abril, com o aval do Governo de Quito.

Condenado a 50 semanas de prisão por ter evitado a justiça britânica, está remetido a uma cela na prisão de Belmarsh, sudeste de Londres, e enfrenta um pedido de extradição emitido pelo Governo dos EUA.

Na divisão que ocupava na embaixada previa-se para hoje uma operação de inventariação dos seus bens, segundo um documento judicial publicado pelo WikiLeaks.

Entre esses pertences incluem-se dois manuscritos, a sua ficha médica e equipamento eletrónico, precisou a organização.

O ministro equatoriano dos Negócios Estrangeiros, José Valencia, indicou na semana passada que a justiça equatoriana decidiria "quais os bens" que conviria "entregar às autoridades dos Estados Unidos", e os que deverão ser devolvidos ao detido.

"Esta decisão assenta numa clara ordem judicial" emitida por um juiz equatoriano competente, acrescentou o ministro.

Para um dos manifestantes, que exibiam cartazes com a frese "Libertem Assenge" e acusavam o Presidente equatoriano Lenín Moreno de "traidor", este procedimento constitui "uma violação da vida privada e da liberdade de expressão".

Carolina Graterol, uma jornalista venezuelana, acrescentou à agência noticiosa AFP estas decisões judiciais "transgridem todas as leis" que protegem os jornalistas e "criam um precedente muito perigoso".

Também presente na ação de protesto, o antigo cônsul do Equador em Londres, Fidel Narvaez, alertou contra o risco de os documentos serem "falsificados" para comprometer Assange.

Julian Assange é também acusado de dois casos de violação na Suécia

Previamente, a procuradoria sueca tinha anunciado hoje de manhã que vai emitir uma ordem de detenção de Assange.

"Peço ao tribunal que Assange seja colocado sob detenção na sua ausência, devido a suspeitas de violação" na Suécia, disse a procuradora Eva-Marie Persson, uma semana após a reabertura da investigação dirigida ao australiano, que tem negado todas as acusações.

Eva-Marie Persson precisou que caso seja aceite o pedido de detenção, emitirá um mandado de captura europeu para obter a transferência de Julian Assange para a Suécia.

O fundador do WikiLeaks, optou por se refugiar em 2012 na embaixada do Equador para evitar ser no imediato entregue à Suécia por dois casos de alegada violação, um dos quais já prescreveu.

Assange tem negado todas as acusações.

Lusa.