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Porque é que ainda se caçam baleias?

O registo mais antigo da prática está gravado no sul da Coreia, em pinturas rupestres, que datam cerca de 8000 anos.

Porque é que ainda se caçam baleias?
Ritzau Scanpix Denmark

A prática já antiga tornou-se cada vez mais sofisticada com a introdução dos navios baleeiros e as armas de caça, cada vez mais eficazes. Resultado: o crescimento natural das espécies caçadas não acompanhou o ritmo a que eram mortas.

A comunidade internacional entendeu por isso que era urgente regulamentar a atividade. A primeira tentativa surgiu em 1931, mas o processo foi interrompido devido à Segunda Guerra Mundial.

15 anos depois, sai da gaveta a Convenção Internacional para a Regulação da Atividade Baleeira, pela mão das Nações Unidas. O documento foi assinado por 42 estados, entre eles o Japão.

Foi então criada a Comissão Baleeira Internacional (IWC), entidade que ficou responsável pela regulamentação da atividade.

Mas só em 1986 a IWC decidiu banir, sem termo definido e a todos os Estados participantes do acordo, a caça à baleia para fins comerciais.

Ainda assim, os barcos nunca deixaram de fazer-se ao mar. Sobretudo os japoneses, noruegueses e islandeses. São estes os três países que caçavam e continuam a caçar em grande escala.

Apesar da proibição, o Japão continuou a atividade, mas para "fins científicos". A Noruega assume-se, simplesmente, contra a proibição e a Islândia caça sob algumas “reservas”, consideradas duvidosas pela WDC.

Segundo a WDC (Conservação para as baleias e golfinhos), todos os anos o Japão, Noruega e Islândia matam aproximadamente 1500 baleias e, nestes números não estão incluídas as de menores dimensões mortas em autênticos banhos sangrentos pelo mundo.

No caso do Japão, que acena a bandeira da ciência para continuar a caçar existem suspeitas de que a carne destes mamíferos mortos acaba por ser vendida, logo comercializada.

O óleo, a gordura e a cartilagem são utilizados para fins farmacêuticos e suplementação alimentar, enquanto a carne é utilizada em alimentos para animais de estimação e servida como iguaria tradicional.

Os argumentos da Islândia

Segundo a BBC, os islandeses caçam porque "existirem demasiadas baleias no oceano" e, portanto, comem muito do peixe que há no mar. Argumentam ainda que quem come os cetáceos, "são os turistas" que os visitam.

O primeiro argumento foi contrariado por um relatório publicado em 2004, da WDC onde pode ler-se que “contrariamente ao que a população acredita, as baleias não comem todo o peixe nos arredores da Islândia”, na realidade têm uma dieta bastante variada que vai desde o plâncton, ao krill (conjunto de espécies semelhantes ao camarão) e aos pequenos peixes.

Já o segundo argumento é confirmado pela organização de defesa dos cetáceos: perto de 40% dos turistas que visitam a região consome carne de baleia. Apenas 1,7% dos islandeses aprecia este alimento.

Tal como a Noruega, também a Islândia exporta para o Japão carne de baleia.

Noruega e o 'direito' a caçar baleias

Na Noruega caçam apenas a baleia-de-minke, vulgarmente conhecida por baleia-anã. Além de ser exportada para o Japão, a carne é consumida pela população local e para a alimentação de animais.

O país, que sempre deixou clara a sua posição contra à proibição imposta em 1986, ainda assim continuou a caçar cetáceos, segundo dados publicados pela Conservação para as baleias e golfinhos. Em 1993 a Noruega anunciou que iria retomar a atividade para fins comerciais. No mesmo ano caçou mais de 12 000 baleias.

Para combater a descida a pique do consumo doméstico da carne de baleia, o Governo norueguês iniciou, em 2012, um plano de “marketing” para encorajar o consumo. Além da modernização das embalagens, foram desenvolvidos programas para introduzir a carne nas ementas escolares e campanhas publicitárias.

E resultou. Em 2014, a Noruega registou o maior número de baleias capturadas e mortas desde que retomou a caça.

Caça à baleia, uma tradição secular no Japão

As espécies caçadas são a baleia-de-minke, baleia-de-bryde e baleia-boreal no Norte do Pacífico.

Oficialmente, o Japão caça para fins científicos, mas a verdade é que acaba por revender a carne para consumo.

Em 2014, o Tribunal Internacional de Haia ordenou ao Japão o fim do programa de caça às baleias desenvolvido na Antártica. O Japão declarou-se fora da jurisdição deste tribunal e retomou o programa, mas com um nome diferente.

No início de 2019 anunciou que se ia retirar da IWC e retomar à caça comercial. Esta semana fizeram-se ao mar os primeiros baleeiros do porto de Kushiro, no norte do Japão.

A quota de captura até ao final deste ano está fixada em 227 baleias, menos do que as 333 que o Japão caçou na Antártida nos últimos anos.

Caça às baleias "não é sustentável"

Segundo um estudo do economista Mattew Lundgren, o retorno económico desta atividade é nulo.

Em 2012 apenas 25% do total da carne de baleia foi vendida, o que levou ao início das injeções de capital pelo Governo japonês. Esta tem, aliás, sido uma prática comum ao ponto do país desviar fundos humanitários para as baleias.

Em 2011, mais de 20 milhões de euros (23 milhões de dólares) pertencentes ao fundo para reconstrução do país após o terramoto e tsunami do mesmo ano, que causou o acidente nuclear de Fukushima, foram redirecionados para pagar as dívidas da atividade.

Num artigo do New York Times, Tóquio continua a defender que estes subsídios são necessários para reerguer a indústria. Já o Fundo Internacional para o Bem-estar dos Animais defende que o Estado japonês devia investir na observação de baleias, atividade que traria "maior retorno económico".

Em 2006 a Islândia também viu 179 toneladas de carne de baleia ser deitada fora devido à falta de procura.

O Governo norueguês não foi exceção e, desde 1992, já gastou mais de 4 milhões de euros em campanhas para o consumo da carne.