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Comissária dos bombeiros de Londres defende atuação no incêndio da torre Grenfell

Os bombeiros de Londres enfrentaram uma situação "sem precedentes" em Grenfell.

Torre Grenfell em chamas em Londres
Torre Grenfell em chamas em Londres
Matt Dunham / AP

A comissária dos bombeiros de Londres defendeu hoje a resposta dada pela corporação ao incêndio da torre Grenfell, em 2017, depois de o relatório oficial concluir que a atuação dos bombeiros podia ter salvado muitas das vítimas.

Embora tenha garantido que irá ter em consideração as recomendações avançadas pelo relatório da comissão de inquérito, hoje divulgado, a comissária Dany Cotton sublinhou que os bombeiros de Londres enfrentaram uma situação "sem precedentes" em Grenfell.

O incêndio na torre Grenfell começou na noite de 14 de junho de 2017 e alastrou rapidamente aos andares superiores do edifício de 25 pisos, alegadamente devido ao revestimento exterior inflamável.

O fogo acabou por provocar a morte de 72 pessoas.

"Estamos dececionados com algumas das críticas [feitas no relatório] a alguns bombeiros, que foram colocados perante circunstâncias completamente inéditas e enfrentaram condições inimagináveis enquanto tentavam salvar as vidas de outras pessoas", sublinhou a comissária.

O relatório, apresentado hoje publicamente pelo presidente da comissão de inquérito, Martin Moore-Bick, refere que os bombeiros deveriam ter retirado as pessoas da torre mais cedo, garantindo que isso teria salvado muitas vidas.

O documento aponta "falhas sistémicas" na atuação dos bombeiros, referindo que "um exame atento às operações da sala de controlo revelou deficiências na atuação, política e formação" dos bombeiros, nomeadamente na forma de lidar com um número excecional de chamadas telefónicas a pedir ajuda.

De acordo com o inquérito, "nem sempre foram obtidas as informações necessárias" nas chamadas telefónicas, nem foram "avaliadas as condições dos locais onde as pessoas que telefonavam estavam, para facilitar a sua fuga".

A comissão de inquérito concluiu ainda que os bombeiros não conseguiram preparar um plano para combater o incêndio e retirar as pessoas do edifício, classificando a operação como "gravemente inadequada".

Além disso, o documento adianta que houve "violação das orientações nacionais" e que os líderes dos bombeiros devem "deixar de se esconder atrás da coragem da sua brigada de combate e enfrentar as consequências das suas falhas".

No relatório, Moore-Bick pede uma ação urgente do Governo para melhorar a segurança dos arranha-céus e faz um apelo direto ao primeiro-ministro para que as suas recomendações sejam adotadas de imediato.

Segundo a comissão, a principal razão para o alastramento do fogo foi o revestimento de alumínio e plástico usado no exterior do edifício durante uma remodelação do edifício, realizada em 2016.

A associação Grenfell United, que representa centenas de membros da comunidade afetada pelo incêndio, entre sobreviventes e familiares, disse hoje que as conclusões do relatório são "muito tristes" por mostrarem que vítimas poderiam ter sido salvas se fossem retiradas do edifício mais cedo.

Os sobreviventes adiantaram que a sua vontade de avançar com "acusações criminais" é agora ainda mais forte face às conclusões sobre o uso de materiais inflamáveis na remodelação da torre.

Lusa