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Porteiro que citou Bolsonaro no caso Marielle não autorizou entrada de suspeito

A investigação dos peritos atestou que o áudio da portaria do condomínio Vivendas da Barra, onde o Presidente brasileiro e um dos suspeitos de cometer o crime têm casas, não sofreu qualquer tipo de edição.

Porteiro que citou Bolsonaro no caso Marielle não autorizou entrada de suspeito
Adriano Machado

Um relatório policial concluiu que a voz do porteiro que permitiu a entrada de um suspeito de matar a ativista Marielle Franco, num condomínio, não é a mesma do funcionário que mencionou o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro no caso.

A informação foi divulgada esta terça-feira pelo jornal O Globo, que obteve acesso ao relatório assinado por seis peritos da Polícia Civil.

A investigação dos peritos atestou que o áudio da portaria do condomínio Vivendas da Barra, onde o Presidente brasileiro e um dos suspeitos de cometer o crime têm casas, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, não sofreu qualquer tipo de edição.

A citação do nome do Presidente brasileiro no caso Marielle tornou-se pública após a divulgação de uma reportagem da TV Globo, em outubro do ano passado, que descobriu que Élcio de Queiroz esteve no condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018, dia em que a vereadora e o motorista foram mortos a tiro.

Um porteiro do condomínio, citado pela Globo, disse que Élcio Queiroz afirmou à entrada que queria visitar Jair Bolsonaro, então deputado federal.Segundo a mesma fonte, alguém de casa de Bolsonaro autorizou a entrada, mas Queiroz acabou por dirigir-se à residência de Ronnie Lessa, acusado de balear Marielle horas depois, naquele mesmo dia.

Contudo, o atual chefe de Estado estava nesse dia, 14 de março de 2018, em Brasília, a mais de mil quilómetros do Rio de Janeiro, como comprovam os registos oficiais do Congresso.

Num novo depoimento prestado à polícia, em novembro do ano passado, o porteiro recuou na informação prestada anteriormente e admitiu que errou ao citar o nome de chefe de Estado aos investigadores do caso.

A citação do nome de Jair Bolsonaro no assassínio de Marielle Franco acabou arquivada pela Procuradoria Geral da União (PGR).

No relatório obtido pelo jornal brasileiro, os peritos indicaram que a pessoa que autorizou a entrada do ex-polícia Élcio de Queiroz no condomínio foi o polícia reformado Ronnie Lessa.

Tanto Élcio quanto Lessa estão presos sob a acusação de terem assassinado Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, um crime que gerou grande comoção e está a ser investigado há quase dois anos pelas autoridades brasileiras e que ainda não teve um desfecho.

Marielle Franco era vereadora (membro da câmara da cidade do Rio de Janeiro), ativista, negra e homossexual, nascida numa favela, e destacou-se pelo seu trabalho como defensora dos direitos humanos, e pelas suas denúncias contra a violência policial no Rio de Janeiro.