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Pastor evangélico e diretora de festival cristão indicados por Bolsonaro para Agência de Cinema

A intenção do Governo do Brasil de colocar evangélicos na Agência Nacional do Cinema não é uma novidade.

Pastor evangélico e diretora de festival cristão indicados por Bolsonaro para Agência de Cinema
Adriano Machado

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, indicou esta sexta-feira ao Senado o pastor evangélico Edilásio Barra e a diretora do Festival Internacional de Cinema Cristão, Verônica Brendler, para a direção da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

A indicação foi publicada hoje em Diário oficial da União e encaminhada para aprovação do Senado brasileiro.

A intenção do Governo do Brasil de colocar evangélicos na Agência Nacional do Cinema não é uma novidade.

Em agosto último, após ter admitido a possibilidade de extinguir a Ancine, caso não a pudesse usar para impor "filtros" nas produções audiovisuais, Bolsonaro afirmou que desejava um presidente com perfil "terrivelmente evangélico" para liderar a agência.

Apresentador, ator, colunista social e também pastor evangélico, Edilásio Barra assumiu no ano passado a Superintendência de Desenvolvimento Económico da Ancine, sendo responsável pela gestão do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Já a cineasta e produtora cultural Verônica Brendler é diretora do Festival Internacional de Cinema Cristão. No seu 'site', o festival é caracterizado como promotor de "filmes que fomentam os valores da família, responsabilidade social, cidadania, acessibilidade, inclusão social e digital, sustentabilidade".

A direção da Ancine é composta por quatro membros, sendo que um deles é indicado como diretor-presidente. Atualmente, esse cargo é ocupado pelo advogado Alex Braga.

A Ancine é uma agência reguladora que tem como funções o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil, e que nos últimos tempos tem sido alvo de tentativas de implementação de "filtros culturais" por parte de Jair Bolsonaro.

No passado, a agência estava sob a alçada do Ministério da Cultura antes da extinção deste por parte de Bolsonaro.

A comunidade artística brasileira tem reclamado da "guerra contra o marxismo cultural" lançada pelo novo Governo brasileiro, de Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro de 2019 e que tem defendido a censura da atividade cultural no país.

Em setembro, a Ancine suspendeu o apoio financeiro à participação de realizadores brasileiros em festivais estrangeiros, incluindo em seis festivais portugueses.

Já em outubro, foi notícia que o banco público Caixa Económica Federal começou a aplicar um sistema de censura prévia a projetos realizados nos seus centros culturais, por todo o Brasil, exigindo pormenores do posicionamento político dos artistas e o seu comportamento nas redes sociais, a par de outras imposições de caráter polémico, sobre as obras em exibição, como "manifestações contra a Caixa e contra o Governo".

Existem hoje mais de 400 projetos de filmes e séries parados em todo o país, que aguardam recursos financeiros, já aprovados, vindos de diversos mecanismos de fomento, incluindo o FSA, de acordo com a imprensa brasileira, que frisa que o número pode chegar aos 600.

Na quinta-feira, no 70.º festival internacional de cinema de Berlim, o cineasta brasileiro Kleber Mendonça lamentou a situação cultural que o Brasil atravessa.

"Estamos no melhor momento da história do cinema brasileiro e é exatamente o momento em que a indústria cinematográfica do país está a ser desmantelada dia a dia. (...) Temos cerca de 600 projetos entre cinema e televisão completamente congelados pela burocracia", indicou o cineasta, citado pelos media brasileiros.