Mundo

Ataques de Trump à OMS podem enfraquecer saúde global

Alertam especialistas em epidemias.

Ataques de Trump à OMS podem enfraquecer saúde global
LEAH MILLIS

Especialistas em epidemias disseram que os constantes ataques do presidente norte-americano à Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram um profundo desconhecimento do papel das agências das Nações Unidas e podem enfraquecer a saúde global.

Trump ameaçou na segunda-feira cortar definitivamente a contribuição dos Estados Unidos para OMS, suspensa desde abril depois de Trump criticar a forma como a organização geriu a pandemia de Covid-19.

Donald Trump acusou a OMS de ser "uma marioneta da China" e divulgou no Twitter uma carta que enviou ao diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ameaçando tornar permanente o congelamento temporário de contribuições dos Estados Unidos.

Os EUA são o maior contribuinte da OMS, fornecendo cerca de 450 milhões de dólares por ano (cerca de 415 milhões de euros).

Devi Sridhar, professora de saúde global na Universidade de Edimburgo, afirmou que a carta foi escrita provavelmente para a base eleitoral de Trump com o objetivo de desviar a culpa pelo impacto devastador do vírus nos EUA, que tem, de longe, o maior número de infeções e mortes pelo vírus do mundo.

"A China e os EUA estão a lutar como pais divorciados, enquanto a OMS é a criança apanhada no meio da situação que tenta não escolher lados", apontou.

Para a especialista, Trump "não percebe o que a OMS pode ou não fazer", explicando que a agência estabelece os padrões internacionais e é dirigida pelos países membros.

"Se ele acha que eles precisam de mais poder, então os Estados membros devem concordar e delegar mais", acrescentou.

Michael Head, investigador sénior da Universidade de Southampton, disse que muito do que Trump exige está para além do alcance da OMS.

"A OMS tem poderes limitados, em termos do que podem exigir dos países onde os surtos estão a acontecer. Eles fornecem orientação especializada e não aplicação da lei", indicou.

Head notou que há lacunas claras na governação noutros lugares em que foi permitida a propagação da Covid-19, principalmente nos EUA, com 1,5 milhões de infetados e mais de 90.000 mortes ligadas ao vírus.

Trump acusou repetidamente a OMS de estar sob influencia da China e escreveu que a agência tem sido "curiosamente insistente" em elogiar a "alegada transparência" do país.

A porta-voz da OMS, Fadela Chaib, disse hoje que a organização não tinha uma resposta imediata à carta de Trump.

A organização sublinhara anteriormente que declarou emergência global de saúde a 30 de janeiro, quando havia menos de 100 casos de coronavírus fora da China. Quando essa declaração foi feita, o diretor-geral da OMS disse que a China estava a estabelecer um novo padrão de resposta a surtos.

Acrescentou que o mundo deve a sua gratidão à China pela maneira como ganhou tempo para as outras nações planearem as medidas extraordinárias para conter o vírus.