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Confirmado primeiro contágio entre humanos de raro vírus na Bolívia

O vírus Chapare pertence à família do vírus do Ébola que causa febre hemorrágica e é mortal.

Agricultores de coca na região de Chapare, onde o vírus foi detetado pela primeira vez em 2013
Agricultores de coca na região de Chapare, onde o vírus foi detetado pela primeira vez em 2013
Ueslei Marcelino / Reuters

Investigadores do Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos (CDC) descobriram na primeira a transmissão entre humanos de um vírus raro. Chapare é da família de vírus que pode causar febres hemorrágicas, como o Ébola.

Até agora só era conhecido um caso de um ser humano infetado pelo vírus Chapare. Em 2003, um agricultor boliviano da provícia de Chapare, a cerca de 600 km a leste de La Paz e desde então nunca mais se ouviu falar da doença.

Recentemente foi confirmado que, em 2019, pelo menos cinco pessoas foram infetadas por este vírus. Segundo a investigação do CDC, dois doentes transmitiram o vírus a três profissionais de saúde na província de Caranavi. Um dos pacientes e dois médicos morreram.

"A nossa investigação confirmou que um jovem médico, um médico de ambulância e um gastroenterologista contraíram o vírus depois de contactos com pacientes infetados ”, disse Caitlin Cossaboom, epidemiologista do CDC ao The Guardian. Dois dos profissionais de saúde morreram. “Acreditamos que os fluidos corporais podem transportar o vírus.”

Febre hemorrágica Chapare

"A febre hemorrágica Chapare (CHHF) é uma febre hemorrágica viral causada pela infeção pelo vírus Chapare. O vírus Chapare pertence à família dos arenavírus. Os arenavírus geralmente são transmitidos às pessoas por contato direto com roedores infetados ou indiretamente pela urina ou fezes de um roedor infetado", lê-se na página do CDC dedicad ao vírus.

Acredita-se assim que o vírus seja transportado por ratos, que por sua vez podem transmiti-lo aos humanos. Mas como o contágio é feito através de fluidos corporais, raramente se espalham tão amplamente como as doenças respiratórias como a gripe ou a Covid-19,

Estas conclusões da equipa do CDC, apresentadas esta segunda-feira numa conferência da American Society of Tropical Medicine and Hygiene (ASTMH), revelam também a possibilidade de o vírus estar a circular na comunidade há vários anos sem ser detetado.

Isto porque os sintomas - febre, dor abdominal, vómito, sangramento nas gengivas, erupção cutânea e dor atrás dos olhos - são semelhantes à dengue, uma doença transmitida por mosquitos, também potencialmente fatal, e que também pode causar febre e sangramento interno.

"Na América do Sul, em particular, a dengue é predominante pelo que as pessoas, perante os sintomas de uma febre hemorrágica, pensam logo em dengue antes de qualquer outra coisa", disse Maria Morales-Betoulle, investigadora do CDC que trabalhou no surto de Chapere de 2019. "É semelhante. Muito semelhante", afirmou ao site Live Science.

Como não existem medicamentos específicos para a doença, os pacientes recebem apenas cuidados paliativos, como fluidos intravenosos.

Os cientistas terão agora de avançar mais na investigação para perceber melhor o vírus e qual a sua capacidade de contágio e de causar eventual epidemia.