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ONU reconhece oficialmente propriedades medicinais da canábis

O uso recreativo continuará a ser proibido pelo direito internacional.

Vaporizador de óleo de espectro total na nova sala de consumo de canábis em Oakland, na Califórnia.
Vaporizador de óleo de espectro total na nova sala de consumo de canábis em Oakland, na Califórnia.
Elijah Nouvelage

A ONU reconheceu as propriedades medicinais da canábis numa votação realizada hoje em Viena pela Comissão de Estupefacientes, o órgão executivo sobre política de drogas das Nações Unidas.

Uma maioria simples dos 53 Estados da Comissão de Estupefacientes decidiu retirar a canábis e a sua resina da Lista IV da Convenção sobre Drogas de 1961, o que significa que a utilidade médica desta planta passa a ser oficialmente reconhecida.

O uso recreativo continuará a ser proibido pelo direito internacional, adianta a agência de notícias espanhola Efe.

Quase todos os Estados da União Europeia, à exceção da Hungria, e muitos estados da América representaram maioria simples de 27 votos para aprovar a mudança, uma das mais importantes em matéria de drogas nas últimas décadas, enquanto a maioria dos países da Ásia e de África se opôs, segundo a Efe.

Na Convenção sobre Drogas de 1961, a canábis está classificada nas listas I e IV, esta última reservada às drogas mais perigosas e sob controlo mais rigoroso, como a heroína, e às quais é atribuído pouco valor medicinal.

Esta alteração facilitará a investigação com canábis, que tem princípios ativos que têm demonstrado resultados promissores no tratamento da doença de Parkinson, da esclerose múltipla, da epilepsia, dor crónica e no cancro.

A votação ocorreu quase dois anos depois de um parecer da Organização Mundial de Saúde (OMS) que reconhecia a utilidade médica da canábis e recomendou a sua retirada da lista IV.

Ao mesmo tempo, propôs manter a canábis na Lista I, onde os estupefacientes estão sob controlo internacional devido à sua natureza aditiva, mas acessíveis para atividades médicas, situação em que se encontram outros estupefacientes, como a morfina, adianta a Efe.

A recomendação agora adotada baseou-se no primeiro estudo crítico da OMS sobre a canábis, o medicamento mais popular do mundo, com cerca de 200 milhões de consumidores, de acordo com estimativas da ONU.

Cerca de 50 países lançaram diferentes programas de canábis medicinal e esta decisão das Nações Unidas, previsivelmente, promoverá tais políticas, bem como pesquisas com a planta, refere a Efe.

Uso de canábis para fins medicinais em Portugal em vigor desde 2019

Em Portugal, a legalização do uso de canábis para fins medicinais foi aprovada em junho de 2018 e a lei entrou em vigor em 01 de fevereiro de 2019.

Até agora, a investigação médica com canábis era possível numa base limitada, uma vez que a sua inclusão na Lista IV funcionava como um travão para muitos laboratórios devido às restrições e diferentes critérios legais aplicados em cada país.