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Chefe da diplomacia europeia justifica deslocação a Moscovo com defesa dos direitos humanos

Josep Borrell defende que se "a defesa dos direitos humanos está no ADN" do projeto europeu, "há momentos em que é preciso dar a cara".

Chefe da diplomacia europeia justifica deslocação a Moscovo com defesa dos direitos humanos
OLIVIER HOSLET / POOL

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, defendeu hoje a sua deslocação a Moscovo, frisando que, se "a defesa dos direitos humanos está no ADN" do projeto europeu, "há momentos em que é preciso dar a cara".

"A mim, francamente, parece-me, e continua a parecer-me, que se, efetivamente, a defesa dos direitos humanos está no nosso ADN, há momentos em que é preciso dar a cara e ir explicar o que dizemos nos comunicados para que fique claro a quem os recebe", defendeu o Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa durante uma intervenção na sessão plenária do Parlamento Europeu (PE).

Fortemente criticado durante o debate pelos eurodeputados, que o acusaram de falta de preparação na ida a Moscovo, de ter escolhido o momento errado para se encontrar com as autoridades russas e de não ter defendido os valores europeus, Borrell afirmou que a sua deslocação foi "apoiada pela maioria dos membros do Conselho de Negócios Estrangeiros".

"Francamente, eu não acho que não devíamos ter ido dizer-lhes na cara o que dizemos por correspondência. Penso que era o momento de defender com toda a nossa força, e com a força da presença física de um Alto Representante, a nossa posição no que se refere ao caso Navalny", apontou.

Notando que "pode haver discussões" sobre se a forma e o momento em que "expressou as posições" podiam ter sido feitas de "maneira diferente", o chefe da diplomacia europeia abordou a conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, tendo os eurodeputados criticado a apatia de Borrell perante o responsável do Kremlin, que qualificou a UE de "parceiro pouco credível" e de ter "dualidade de critérios" no que se refere à detenção do opositor russo Alexei Navalny.

"Não vejo uma conferência de imprensa conjunta como um debate ou um pugilato. Explico a minha posição, reitero-a, transmito a mensagem que fui transmitir: que a UE está profundamente em desacordo e condena a tentativa de homicídio de Navalny, os julgamentos a que está a ser submetido, a repressão da sociedade civil e das manifestações", defendeu.

Referindo que reiterou a condenação do julgamento de Navalny "duas vezes" durante a conferência de imprensa, Borrell elucidou ainda os eurodeputados sobre a visão que o Kremlin tem do bloco europeu.

"A Rússia considera que a UE está demasiado dividida para conseguir ter uma política firme face a ela, e também consideram, e dizem-to na cara, que somos um apêndice dos Estados Unidos, e que condenaremos sempre o que eles condenarem, e não o faremos quando eles não o fizerem", afirmou.

Perante apupos de alguns eurodeputados, Borrell defendeu assim que essa postura "tem de ser posta em questão", e sublinhou que, ainda que a UE seja aliada dos Estados Unidos, não está "100% alinhada com eles" em todas as posições que adotam, sendo isso algo que tem de ser dito "nos casos em que há discrepâncias" entre os dois parceiros, e quando é "necessário e conveniente".

"Isso é algo que, de alguma maneira, pode surpreender alguns, porque têm uma visão excessivamente unilateral dos acontecimentos. Mas a minha obrigação não é exercer uma atitude fóbica contra ninguém, é criar pontes quando é possível, e marcar posições firmes quando é necessário", defendeu.

O Alto Representante referiu assim que se pode procurar responder à razão pela qual o resultado da deslocação a Moscovo não foi alegadamente bom, salientando que "há diferentes razões e diferentes factos" que é "preciso analisar um a um", mas que esse debate não se deve transformar num processo "em que o único beneficiário é o Kremlin, que ficará encantando" ao ver as divisões da UE.

"No fundo, trata-se de atuar com unidade e determinação, porque os países autocráticos ou autoritários acreditam que as democracias são intrinsecamente débeis devido ao seu próprio funcionamento e às divisões que isso implica", sublinhou.

Assim, referindo que "as experiências históricas", desde a queda do muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética, provam o contrário, Borrell destacou que as democracias são "mais fortes" e "mais resilientes" porque têm "intrinsecamente uma unidade" por cima das "diferenças".

"Não podemos deixar que as nossas diferenças nos debilitem. E, neste caso, como em todos, o que há que construir antes e depois da minha viagem à Rússia é a unidade entre os Estados-membros, e é algo a que nos temos que dedicar a partir de agora", concluiu.