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Rússia considera sanções da UE por detenção de Navalny "ilegais"

Serguei Lavrov considera que as exigências europeias constituem "uma interferência nos assuntos internos de um Estado soberano".

Rússia considera sanções da UE por detenção de Navalny "ilegais"
FABIO FRUSTACI

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considerou esta segunda-feira "ilegal" a decisão da União Europeia de impor novas sanções a responsáveis russos pelo julgamento e detenção do opositor Alexei Navalny.

A diplomacia russa reagia à decisão, anunciada horas antes pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, de que os chefes de diplomacia da União Europeia (UE) chegaram a um "acordo político" em relação às novas sanções e anunciou que cabe agora ao Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, fazer uma proposta relativa aos indivíduos a serem sancionados.

Em conferência de imprensa após a cimeira que reuniu o conjunto dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, Santos Silva afirmou que "manifestamente, a Rússia está numa atitude muito agressiva para com a UE e o relacionamento entre os dois blocos está num dos pontos mais baixos de sempre".

Para o Ministério das Relações Exteriores russo, a decisão do bloco europeu de "preparar novas sanções ilegais e unilaterais contra os cidadãos russos" foi "dececionante".

"Consideramos categoricamente inaceitáveis as constantes exigências ilegais e absurdas para a libertação de um cidadão da Federação Russa que foi condenado por crimes económicos por um tribunal russo, no território do nosso país e de acordo com a lei russa", refere a nota do Ministério, citada pela Sputnik News.

As exigências europeias constituem "uma interferência nos assuntos internos de um Estado soberano", adianta a nota do ministério liderado por Serguei Lavrov.

A Rússia fez coincidir a recente viagem a Moscovo do alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, com a expulsão de três diplomatas europeus.

Um tribunal russo declarou sábado Alexei Navalny, o principal detrator do Kremlin, culpado de "difamação" de um veterano da II Guerra Mundial, horas após ter sido condenado, em recurso, a dois anos e meio de prisão, num outro caso.

O Ministério Público solicitou, no caso de difamação, uma multa de 950.000 rublos (cerca de 10.600 euros) e exigiu que uma pena suspensa para o opositor fosse convertida em pena de prisão.

A justiça russa confirmou ainda uma sentença de prisão efetiva de Nalvalny, por violação de medidas de controlo judicial, mas reduziu-lhe a pena.

O juiz de um tribunal de Moscovo, Dmitri Balashov, reduziu a pena em um mês e meio pelo que o ativista e principal opositor do regime russo irá cumprir uma pena de dois anos e meio de prisão.

Rússia afirma estar pronta "para responder" às sanções

No anúncio das sanções a responsáveis russos, Santos Silva referiu esta segunda-feira que isso não impede que a UE não se mantenha "interessada" em "comunicar com a Rússia", nomeadamente "em matérias de interesse comum", nas quais a colaboração com Moscovo é "indispensável", tendo o chefe da diplomacia português enumerado a "não proliferação" e o "controlo de armamento".

Além do acordo político alcançado esta segunda-feira para a adoção de sanções contra responsáveis russos, o envenenamento do opositor russo Alexei Navalny já tinha motivado a introdução de medidas restritivas em outubro de 2020.

Na altura, seis indivíduos e uma entidade que estavam "envolvidos na tentativa de homicídio" tinham sido sancionados, ficando proibidos de viajar para a Europa e tendo os seus bens congelados no espaço europeu.

Este fim de semana, numa entrevista ao jornal alemão Die Welt, o representante da Rússia junto da UE, Vladimir Chizhov, referiu que o país estava "pronto para responder" caso o bloco optasse por impor novas sanções.

As novas sanções contra a Rússia serão similares à Lei Magnitsky, dos EUA, que castiga as violações dos direitos humanos e, a ser aplicado este tipo de sanções na UE, será uma estreia no espaço comunitário.

Estas medidas repressivas consistem em proibir a entrada em território europeu de pessoas sancionadas, assim como o congelamento dos bens que tenham na UE.

Atualmente, a UE mantém sanções contra a Rússia por causa da anexação da Crimeia e da guerra no leste da Ucrânia e ainda devido ao envenenamento que sofreu Navalny com o agente químico novichok, pelo que estas são as terceiras que estão sobre a mesa, num debate que continuará na cimeira de março com os chefes de Estado e do Governo da UE.