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População foge após disparos em Moçambique

Residentes de Macomia têm receio de que os rebeldes armados possam voltar a entrar na vila.

População foge após disparos em Moçambique

Os residentes de uma das principais vilas de Cabo Delgado, Macomia – situada no norte de Moçambique – fugiram para as matas na noite de quinta-feira devido a disparos nas imediações, disseram esta sexta-feira dois habitantes à Lusa.

“Desde as 18:00 (16:00 em Lisboa) houve disparos e fomos todos dormir nas matas”, relatou esta manhã um habitante a partir de um esconderijo, numa altura em que ainda não há informação oficial sobre a situação.

A fuga da população deve-se ao receio de que os rebeldes armados possam voltar a entrar na vila e na sede de distrito, tal como aconteceu em 2020, apesar de atualmente haver tropas a guarnecer a área. A mesma fonte referiu que os tiros começaram a ser ouvidos a partir da zona onde está a base das forças armadas moçambicanas e da SAMIM, tropas dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

A população de Macomia teme que se torne igualmente arriscado aceder aos campos de cultivo em redor da vila. Uma fonte ligada às milícias locais revelou estar em casa a preparar uma mala com roupa para rumar a Pemba, capital provincial de Moçambique, devido aos renovados receios de insegurança na vila.

Antes de o conflito alastrar, Macomia era um dos principais entrepostos comerciais e de transportes da província, por se situar a meio da única estrada pavimentada a ligar o norte e o sul de Cabo Delgado, a estrada nacional 380. A sede de distrito fica a cerca de 200 quilómetros a sul de Palma e Mocímboa da Praia, zona dos projetos de gás, reconquistada com o apoio de forças ruandesas em julho de 2021.

Suspeita-se que os grupos rebeldes em fuga da ofensiva militar sejam os responsáveis pelos ataques que têm acontecido noutros pontos de Cabo Delgado. Antes dos disparos da noite de quinta-feira, as tropas moçambicanas combateram grupos armados que, na última semana, invadiram a ilha de Matemo.

Noutro ponto da região, no extremo norte, junto à fronteira com a Tanzânia, aldeias do distrito de Nangade têm sido alvo de incursões de rebeldes desde fevereiro. As autoridades moçambicanas têm pedido apoios à comunidade internacional para financiar o esforço militar em Cabo Delgado, considerando que, apesar das melhorias no controlo da região nos últimos oito meses, o combate contra as forças insurgentes ainda não está ganho.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já causou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

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