Um estudo publicado esta terça-feira revelou que mais de um milhão de pessoas morrerão de cancro na África Subsaariana em oito anos, quase o dobro das mortes verificadas atualmente.
O estudo, publicado na revista científica The Lancet Oncology, refere que, se não forem tomadas medidas urgentes, a incidência de cancro na região disparará até 2040 para 1,4 milhão de casos por ano. Foi realizado pela Comissão de Oncologia Lancet e é composto por especialistas internacionais.
A investigação destaca que uma em cada sete mulheres (14%) corre o risco de desenvolver cancro antes dos 75 anos e que, até 2050, metade dos casos de cancro infantil no mundo ocorrerá em África. Aponta ainda que cerca de 4,2% de todos os novos casos de cancro no mundo no ano passado foram registados na África Subsaariana.
Para os especialistas, esses dados são resultado de uma combinação fatal de fatores como infeções, exposição ambiental, envelhecimento da população, adoção de estilos de vida ocidentais ou problemas de infraestruturas, falta de pessoal qualificado e instalações de diagnóstico, tratamento e prevenção.
Na África Subsaariana, os pacientes descobrem o cancro em estágio avançado e apresentam uma alta taxa de abandono do tratamento, em parte devido à falta de conhecimento dos fatores de risco da doença. A esta situação soma-se a pandemia de covid-19, que agravou muitos destes problemas.
Segundo dados do Centro Internacional de Investigação do Cancro, publicados em conjunto com o estudo da Comissão, o cancro do colo do útero e o cancro da mama foram os mais frequentes em 2020 nos países da África Subsariana.
O cancro do colo do útero sozinho foi responsável pela maioria das mortes por cancro (uma em cada 100) e a principal causa de morte por cancro entre mulheres em 27 países (sendo o cancro da mama a principal causa de morte por cancro em 21 estados). Além disso, embora existam variações geográficas, quase 14% das mulheres na África Subsaariana têm um risco de desenvolver cancro antes dos 75 anos.
Nos homens, o cancro da próstata foi o principal cancro (77.300 casos) em 40 países da região, seguido pelo cancro do fígado (24.700 casos) e cancro colorretal (23.400 casos).
Falta de programas de prevenção e de vacinação são dos principais problemas para o agravamento da doença na região
Entre os principais problemas nessa área, o relatório cita a falta de programas de prevenção e a baixa participação nos países que os possuem. Outros problemas são a falta de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), as limitações dos sistemas de saúde, o baixo nível de escolaridade e crenças tradicionais. Doenças infecciosas, consumo elevado de tabaco e álcool em homens e ingestão diária de altas calorias também agravam a doença.
A Comissão sugere ações para melhorar radicalmente o tratamento do cancro na região: o desenvolvimento e financiamento de planos nacionais de controlo do cancro, registos nacionais de casos para melhor planear as ações e a possibilidade de ampliar a cobertura universal de saúde, o lançamento de programas-piloto de rastreio e deteção precoce do cancro e a inclusão dos cuidados paliativos como parte integrante e fundamental do tratamento.
Aconselha ainda a criação de programas de formação para médicos e pediatras especialistas no tratamento do cancro, a criação de institutos e comissões de investigação financiadas, o desenvolvimento de colaborações e parcerias internacionais e o investimento em telessaúde.
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