Um agente da Polícia Nacional do Peru morreu quando uma turba incendiou o veículo de patrulha em que seguia, na região meridional de Puno, onde na segunda-feira morreram 17 pessoas em protestos violentos, indicou um procurador peruano.
"O polícia foi assassinado, essa é a palavra, por uma multidão que incendiou o carro de patrulha e ficou encurralado lá dentro e morreu calcinado", declarou o procurador superior Jorge Chávez Cotrina, coordenador das procuradorias especializadas contra o crime organizado, na estação televisiva Canal N.
O Canal N mostrou posteriormente imagens de um veículo de patrulha totalmente carbonizado numa rua de Puno, indicando que no interior se encontravam os restos mortais do polícia e que os atacantes se apropriaram de duas pistolas e uma metralhadora.
O Ministério do Interior (Mininter) confirmou logo que uma multidão "atacou e incendiou um veículo de patrulha" policial na madrugada de hoje na cidade de Juliaca, embora não tenha confirmado que os restos mortais encontrados sejam de um dos dois agentes que compunham a unidade policial.
"De acordo com informações da X Macro Região Policial, a unidade levava dois polícias a bordo, que foram agredidos pela turba, que se apropriou das suas armas e incendiou em seguida o veículo, junto do qual foi encontrado um corpo carbonizado que, até agora, não foi totalmente identificado", explicou.
Acrescentou que um dos polícias feridos, que identificou como o suboficial de terceira Ronald Villasante, que conduzia a viatura, "conseguiu comunicar telefonicamente com os colegas", a quem relatou o ataque e denunciou o desaparecimento do seu companheiro, o suboficial de segunda José Luis Soncco.Villasante também confirmou "o roubo das munições, coletes à prova de bala e armas de serviço de ambos (duas pistolas Pietro Beretta e uma espingarda automática AKM (Kalashnikov)".
Retidos e agredidos por cerca de 350 manifestantes
O suboficial descreveu que "foram retidos e fisicamente agredidos por cerca de 350 manifestantes, desconhecendo qual é a situação de Soncco", e depois foi transportado para uma clínica local, "onde lhe foram diagnosticadas várias contusões e ferimentos múltiplos na cabeça, pelo que permanece em observação médica".
Nas suas declarações ao Canal N, o procurador Chávez indicou que os representantes do Ministério Público se dirigem ao local onde ocorreu o ataque ao agente policial, com a intenção de ordenar a remoção do corpo, mas acrescentou que em Puno não têm "jurisdição sobre o caso" para cumprir essa missão.
O último relatório da Direção Regional de Saúde (Diresa) de Puno confirmou que os mortos nos protestos de segunda-feira são 17, quatro dos quais não foram ainda identificados, e que mais 73 pessoas ficaram feridas.
"A multidão é muito grande", observou Chávez, antes de indicar que uma equipa de procuradores do Ministério Público pediu, desde o início do dia de hoje, que se realizem as autópsias aos mortos, incluindo o polícia, "para os entregar aos familiares o mais rapidamente possível".
Os 17 manifestantes que morreram na segunda-feira na cidade de Juliaca, nos protestos junto ao aeroporto da cidade, e um bebé que devia ser transportado para um centro médico e não conseguiu lá chegar a tempo devido às barricadas nas ruas elevaram para 46 o número de mortos desde 11 de dezembro em todo o país.
Protestos no Peru
Em dezembro, o país foi palco de protestos contra a deposição do ex-Presidente peruano Pedro Castillo. Na altura, Dina Boluarte, então vice-presidente, assumiu o poder.
Os manifestantes exigem a demissão da Presidente, Dina Boluarte, a dissolução do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte e a realização de eleições gerais antecipadas em 2023.
O primeiro-ministro peruano, Alberto Otárola, denunciou, a esse propósito, que está em marcha um "ataque organizado ao Estado de direito e às instituições" e um "golpe de Estado", pelo qual responsabilizou os manifestantes.
Otárola disse também que o Governo anunciará nas próximas horas maiores medidas de segurança na região e que uma delegação de alto nível do executivo viajará hoje até Puno para tentar entabular um diálogo com os manifestantes.
O Governo de Puno, uma região situada quase 1.300 quilómetros a sul de Lima, decretou hoje três dias de luto em toda a sua jurisdição pelas mortes em Juliaca, acompanhadas de pilhagens e incêndios ateados em locais públicos e privados noutras cidades da região, como Puno e Ilave.
Nos ataques, foram destruídas as sedes da Superintendência Nacional de Alfândegas (Sunad) e do Ministério Público e a residência do congressista Jorge Luis Flores, representante de Puno pelo partido Ação Popular, que foi incendiada.