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Polícia usa gás lacrimogéneo para dispersar marcha em Maputo de homenagem ao rapper Azagaia

Centenas de pessoas começaram a concentrar-se às primeiras horas da manhã, mas foram impedidas de marchar na capital moçambicana. Na Beira, três pessoas foram detidas após confrontos numa homenagem idêntica.

Polícia usa gás lacrimogéneo para dispersar marcha em Maputo de homenagem ao rapper Azagaia
LUIS MIGUEL FONSECA

A polícia moçambicana dispersou com gás lacrimogénio uma marcha em Maputo de homenagem ao 'rapper' de intervenção social Azagaia, que morreu há uma semana vítima de doença.

Centenas de pessoas começaram a concentrar-se às primeiras horas da manhã, mas foram impedidas de marchar na capital moçambicana.

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Hoje estavam agendadas para outras cidades marchas em homenagem ao artista chamado "rapper do povo": Inhambane, Xai-Xai, Beira, Quelimane e Nampula.

Na terça-feira, o funeral em Maputo juntou milhares de pessoas, mas o cortejo foi bloqueado por blindados e polícia fortemente armada num ponto do percurso que passaria em frente à residência oficial do Presidente da República.

Houve momentos de tensão e chegou a ser disparado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que teve de recorrer a uma via alternativa.

LUIS MIGUEL FONSECA

Três manifestantes detidos na Beira

A polícia deteve pelo menos três pessoas na cidade da Beira, centro de Moçambique, após confrontos com participantes numa marcha de homenagem ao rapper Azagaia idêntica à da capital, apesar de na sexta-feira ter garantido que tinha autorização para se realizar.

Fonte policial, sob anonimato, disse hoje aos jornalistas que, entretanto, foram recebidas ordens para a marcha não se realizar.

Face ao bloqueio, os ânimos exaltaram-se e houve confrontos com agressões físicas, sem disparos, que resultaram na detenção de, pelo menos, três participantes, disse fonte da organização.

Os restantes grupos que iam integrar a marcha já não saíram do ponto de encontro, no cruzamento da Munhava, à entrada da Beira, de onde iriam descer para a praça 03 de Fevereiro, na Ponta Gea, zona nobre da cidade.

A polícia colocou um cordão policial no local para impedir a circulação.

Albano Carige, presidente do Conselho Municipal da Beira, pediu aos participantes na marcha que dispersassem e remeteu a sua realização para um outro momento.

Em Chimoio, capital provincial de Manica, também no centro do país, as três organizações que estavam a preparar a marcha anunciaram hoje o seu cancelamento, sem explicações para a decisão.

Azagaia ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique

Com mais de 20 anos de carreira, o 'rapper' ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique e por dar voz aos problemas da população, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

As rimas não passavam na rádio e televisão públicas e os deputados da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, apontavam-no como intérprete da oposição.

Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu na quinta-feira, aos 38 anos, em sua casa, após uma crise de epilepsia, segundo a família do artista.

Reprodução/Facebook