A polícia moçambicana dispersou com gás lacrimogénio uma marcha em Maputo de homenagem ao 'rapper' de intervenção social Azagaia, que morreu há uma semana vítima de doença.
Centenas de pessoas começaram a concentrar-se às primeiras horas da manhã, mas foram impedidas de marchar na capital moçambicana.

Hoje estavam agendadas para outras cidades marchas em homenagem ao artista chamado "rapper do povo": Inhambane, Xai-Xai, Beira, Quelimane e Nampula.
Na terça-feira, o funeral em Maputo juntou milhares de pessoas, mas o cortejo foi bloqueado por blindados e polícia fortemente armada num ponto do percurso que passaria em frente à residência oficial do Presidente da República.
Houve momentos de tensão e chegou a ser disparado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que teve de recorrer a uma via alternativa.
Três manifestantes detidos na Beira
A polícia deteve pelo menos três pessoas na cidade da Beira, centro de Moçambique, após confrontos com participantes numa marcha de homenagem ao rapper Azagaia idêntica à da capital, apesar de na sexta-feira ter garantido que tinha autorização para se realizar.
Fonte policial, sob anonimato, disse hoje aos jornalistas que, entretanto, foram recebidas ordens para a marcha não se realizar.
Face ao bloqueio, os ânimos exaltaram-se e houve confrontos com agressões físicas, sem disparos, que resultaram na detenção de, pelo menos, três participantes, disse fonte da organização.
Os restantes grupos que iam integrar a marcha já não saíram do ponto de encontro, no cruzamento da Munhava, à entrada da Beira, de onde iriam descer para a praça 03 de Fevereiro, na Ponta Gea, zona nobre da cidade.
A polícia colocou um cordão policial no local para impedir a circulação.
Albano Carige, presidente do Conselho Municipal da Beira, pediu aos participantes na marcha que dispersassem e remeteu a sua realização para um outro momento.
Em Chimoio, capital provincial de Manica, também no centro do país, as três organizações que estavam a preparar a marcha anunciaram hoje o seu cancelamento, sem explicações para a decisão.
Azagaia ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique
Com mais de 20 anos de carreira, o 'rapper' ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique e por dar voz aos problemas da população, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
As rimas não passavam na rádio e televisão públicas e os deputados da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, apontavam-no como intérprete da oposição.
Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu na quinta-feira, aos 38 anos, em sua casa, após uma crise de epilepsia, segundo a família do artista.