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“Intimidatório, insultuoso e abusivo”: as razões que levaram à demissão do vice-primeiro-ministro britânico

Dominic Raab
Dominic Raab
Frank Augstein

Ex-governante demitiu-se esta sexta-feira do cargo. Confira as revelações feitas no relatório do advogado Adam Tolley sobre oito queixas de assédio laboral contra o político.

O ex-ministro britânico Dominic Rabb foi "intimidatório", "insultuoso" e "abusivo" para com os seus funcionários, apesar de em algumas ocasiões não "intencionalmente", indica o relatório do advogado Adam Tolley sobre oito queixas de assédio laboral contra o político.

Raab, que nega que a sua atuação implique práticas intimidatórias, demitiu-se hoje do cargo de vice-primeiro-ministro e titular da Justiça do Reino Unido, após a publicação do documento, solicitado em novembro passado pelo chefe do Governo, Rishi Sunak.

No relatório, Tolley, que realizou 66 entrevistas a mais de 20 funcionários e outras quatro ao político conservador, não se pronuncia se Raab violou o designado código ministerial, mas apenas se limita a expor os factos para que Sunak retire as conclusões.

Entre as oito queixas, encontram-se provas de conduta potencialmente persecutória em dois casos, quando o deputado assumia em simultâneo as pastas da Justiça e dos Negócios Estrangeiros.

Durante uma reunião na qual Raab desaprovou o trabalho da sua equipa no Foreign Office, "atuou de uma forma que foi intimidatória, no sentido de irracional e persistentemente agressiva", indica o texto.

"A sua conduta também implicou um abuso ou má utilização do poder de uma forma que insultou ou humilhou. Foi mais longe que o razoavelmente necessário para que a sua decisão se efetuasse e introduziu um elemento punitivo", assegura o advogado, que neste caso considera que Raab deveria estar consciente do efeito dos seus atos.

Num outro cenário e no decurso da sua primeira etapa como ministro da Justiça, descreveu publicamente o trabalho realizado como "completamente inútil" e "lamentável".

"A combinação de uma crítica não construtiva e as interrupções frequentes (das quais muitos funcionários se queixavam) puderam originar um efeito acumulativo como uma forma de intimidação insultuosa", afirma Tolley.

O advogado não considerou provadas outras alegações apresentadas, como a de Raab ser "vingativo", nem que o tenha sido "ameaçador" o seu estilo muito assertivo e gestual, dando por vezes fortes golpes na mesa ou colocando a mão perto de cara de alguém para lhe pedir silêncio.

O vice-primeiro-ministro britânico Dominic Raab
HANNAH MCKAY

O autor do relatório reconhece que o ex-ministro "é muito inteligente, fixa-se nos detalhes e quer tomar decisões empíricas", para além de "ter princípios sólidos".

O comportamento do também vice-primeiro-ministro "é, nas suas próprias palavras, inquisitorial, direto, impaciente e quezilento", assinala o texto.

"Tende a adotar uma visão definida do problema, à margem do que ele implique", o que se aplica quer às decisões políticas quer, por exemplo, ao formato que exige na apresentação dos trabalhos.

"No contexto da investigação, esta forma de atuação manifestou-se no que considerei ser um enfoque um tanto absolutista", disse Tolley.