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Austrália autoriza medicamentos com ecstasy e a substância dos cogumelos alucinogénicos

É o primeiro país a permitir o uso de fármacos com substâncias psicoativas para o tratamento de síndrome de stresse pós-traumático e de depressão, quando o paciente não melhora com outros medicamentos.

Austrália autoriza medicamentos com ecstasy e a substância dos cogumelos alucinogénicos
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A Austrália é o primeiro país a permitir o uso de medicamentos com substâncias psilocibina (presente nos chamados cogumelos alucinogénicos) e MDMA (conhecido como ecstasy). A aprovação pela entidade reguladora do medicamento do país (TSA) aconteceu no início em fevereiro e entra em vigor este sábado, 1 de julho.

Um comunicado da Administração de Ativos Terapêuticos (TGA na sigla em inglês), divulgado em fevereiro, explicava que ambas as substâncias passar a poder ser prescritas por "psiquiatras especificamente autorizados para o tratamento de algumas doenças mentais".

A entidade reguladora do medicamento da Austrália permite, assim, a prescrição da droga sintética MDMA (3,4-metilendioximetanfetamina) para o tratamento do síndrome de stresse pós-traumático e da psilocibina para a depressão, quando o paciente não melhora com outros medicamentos.

"Estas são as únicas duas doenças para as quais há evidências suficientes de benefício potencial para alguns pacientes", referia o comunicado.

Para prescrever medicamentos com estas substâncias, os psiquiatras terão de obter a aprovação da TCA, que submeterá o pedido à apreciação de um comité de investigação ética.

A TGA reconheceu a "falta de opções" para pacientes com doenças mentais que resistem ao tratamento, mas assinala que será necessário controlar os possíveis efeitos adversos destas terapêuticas.

Sublinha, além disso, que a utilização destas substâncias fora destas duas doenças continua a ser proibida.

Embora no mercado australiano não existam produtos licenciados que contenham qualquer uma daquelas substâncias, a TGA vai permitir que os psiquiatras autorizados a prescrevê-las, adquiram legalmente os "medicamente não aprovados" que as contenham.

Ecstasy, psilocibina e LSD no tratamento de doenças psiquiátricas e adições

As substâncias psicadélicas que marcaram os anos 60 e 70 voltaram. Porém, desta vez, o consumo recreativo não é o principal motivo pelo qual geram interesse. Atualmente são usadas para tratar a depressão, ansiedade ou traumas, no âmbito de processos terapêuticos medicamente assistidos em vários países. Portugal é um deles, e por cá, já existem algumas unidades de saúde que disponibilizam tratamentos recorrendo a psicadélicos.

A maioria das drogas alucinogénicas são ilegais na União Europeia, devido à sua capacidade de alterar os sentidos, a perceção e a consciência e aos efeitos nocivos que provocam no organismo. No entanto, noutras partes do mundo, alguns compostos psicadélicos são consumidos pelas suas propriedades curativas, sendo também usados no contexto de cerimónias espirituais e culturais.

Desde o início dos anos 2000 que os psicadélicos atraem centros académicos de investigação. Um dos estudos mais relevantes juntou 50 doentes oncológicos com ansiedade associada à doença. Tomaram psilocibina e ao fim de seis meses mais de 80% reduziu os sintomas. Desde então foram feitas centenas de publicações científicas. E a ciência continua a centrar-se em provar a eficácia do MDMA, conhecido por ecstasy, o LSD e a psilocibina no tratamento de doenças psiquiátricas e adições.

“A Segunda Vida dos Psicadélicos”

Há hospitais em Portugal a usar quetamina, um anestésico com efeitos psicadélicos, para tratar algumas doenças psiquiátricas, mas ainda sem qualquer tipo de regulamentação. O tema é tratado na Grande reportagem “A Segunda Vida dos Psicadélicos”, transmitida a 15 de junho, que pode ver na íntegra:
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A Grande Reportagem SIC mostra também como centros de ciência e hospitais, um pouco por todo o mundo, procuram a cura ou o tratamento de várias doenças psiquiátricas, como a depressão, com psicadélicos.

Ficha técnica da Grande Reportagem “A Segunda Vida dos Psicadélicos”:

Jornalista - Dulce Salzedas

Repórteres de Imagem - João Lúcio e Rafael Homem

Edição de Imagem - Ricardo Tenreiro