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Morte de jovem em Nanterre: amigo de Nahel, testemunha-chave, dá a sua versão dos factos

O amigo de Nahel, que seria o terceiro passageiro, relata que fugiu depois do carro ter embatido, porque estava com receio que a própria polícia também o matasse.

Morte de jovem em Nanterre: amigo de Nahel, testemunha-chave, dá a sua versão dos factos
Lewis Joly

Um amigo de Nahel, o jovem de 17 anos que foi morto a tiro pela polícia francesa, estava no carro quando a tragédia ocorreu. A testemunha relata que acabou por fugir depois do carro ter embatido, na sequência do disparo, informa o correspondente da SIC em Paris, Guilherme Monteiro.

O amigo de Nahel, que seria o terceiro passageiro, relata que fugiu depois do carro ter embatido, porque estava com receio que a própria polícia também o matasse.

Este testemunho explica a sua versão dos factos, contrariando, assim, a da polícia francesa e a declaração inicial do ministro da Administração Interna, Gérald Darmanin.

“Quis fazer este vídeo para repor a verdade”

O amigo de Nahel indica que não estavam alcoolizados, nem sob o efeito de drogas. Estariam a circular na faixa dos autocarros, quando repararam que estavam a ser seguidos pelas motas da Polícia, com as sirenes ligadas.

Quem era Nahel Merzouk?

A morte de Nahel incendiou os bairros e voltou a pôr os olhos em França, mas o jovem de 17 anos enterrado este sábado em Nanterre, perto de Paris, é descrito como uma pessoa tranquila, por quem o conheceu.

Uma reportagem da agência France Presse, no bairro de Nahel, dá conta de um jovem às vezes 'borderline', com uma vida semelhante à de muitos outros jovens da cidade de Nanterre, nos arredores da capital francesa, entre a sobrevivência e pequenos percalços com a lei.

Fã de RAP e motos, o jovem, que foi enterrado este sábado no cemitério de Mont-Valérien, com a maior privacidade, foi criado sozinho pela mãe em Nanterre, a oeste de Paris.

Morava num bairro em construção na propriedade Pablo-Picasso, aos pé do distrito de La Defense, onde começaram os primeiros tumultos, na terça-feira, logo após o disparo de um polícia que lhe foi fatal.

Durante uma marcha branca na quinta-feira em sua memória, o seu primeiro nome, Nahel, serviu de grito de guerra para milhares de pessoas que viram no seu futuro destruído o símbolo do tratamento injusto que a polícia francesa tem contra os jovens da imigração norte-africana ou negra africana.

"Nahel, ele era um jovem tranquilo. Ele cometeu delitos, de acordo, mas em que mundo é motivo para o matar?", protestou Saliha, 65 anos, moradora de seu bairro.

"Nahel é filho de todos", disseram outros manifestantes durante esta homenagem que resultou em violência.

Devastada, a sua mãe, Mounia, descreveu o jovem como o seu "melhor amigo". "Foi tudo para mim", disse esta mulher que expressou a sua "revolta" enquanto se recusava a criticar toda a força policial.

"Não culpo a polícia, culpo uma pessoa: aquela que tirou a vida do meu filho", afirmou.

O eco de sua morte entoou muito além das fronteiras francesas e especialmente na Argélia, país de origem da sua família.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Argélia expressou a sua "consternação" e afirmou que Nahel era um dos seus "cidadãos" com quem França tem um "dever de proteção".

O jovem, que também era muito próximo da avó materna, trabalhava como estafeta de entregas, segundo o advogado da família.

Também iniciou um "curso de inserção" na associação Ovale Citoyen, que acompanha os jovens através do desporto, e estabeleceu uma parceria com o clube de rugby de Nanterre.

“Ele ia construir um novo futuro”

A ficha criminal de Nahel M. estava limpa, mas ele teve alguns desentendimentos com a lei por se recusar a obedecer, de acordo com o promotor de Nanterre, segundo o qual ele deveria comparecer no tribunal de menores em setembro.

Segundo as autoridades, foi a sua condução perigosa na terça-feira que justificou o controlo policial que lhe foi fatal.

"Para mim, Nahel foi o exemplo típico do jovem do bairro, fora da escola, às vezes marginal, mas não um ladrão de estrada, e que tinha vontade de sair dela", testemunhou Jeff Puech, presidente do Ovale Citoyen, nas colunas do diário Sud-Ouest.

"Ele ia construir um novo futuro", garantiu a associação, no Twitter.

Há um mês, Nahel realizou o sonho de muitos jovens: apareceu como figurante num videoclipe filmado em Nanterre por Jul, astro do rap francês.

Assim como desportistas e outros rappers, Jul compartilhou nas redes sociais o apelo para ajudar financeiramente a família de Nahel, em memória do "pequeno irmão".